Há muitas formas de desenhar, assim como há muitos estilos, tendências e práticas de grafismo. Por isso, há originais que parecem esquiços ou rascunhos, assim como há rascunhos que se elevam como originais.
Nunca me preocupei em classificar o que faço, o estilo (se é que possuo algum), mas as influências de outros autores do passado - ou até do presente - podem permanecer em pormenores, ainda que pequenos.
Em alguns trabalhos, enquanto inéditos, tive o cuidado de colher opiniões entre familiares e amigos, apresentando os desenhos nas versões de "rascunho" e "limpo". E houve quem preferisse um e quem gostasse mais do outro.
É evidente que há muitas formas de contar uma história em sequências desenhadas...
Viva, boa noite
ResponderEliminarA grande responsável pela minha paixão pelas histórias em quadradinhos (era assim que diziam) foi a minha professora da 4ª classe há mais de 50 anos. A extinta MP publicava o "Camarada" e a "Fagulha". (Já depois da escola ter terminado, convenci o meu pai a dar dinheiro para assinar o "Camarada"). Estas publicações, salvo erro eram quinzenais, distribuídas pelas escolas. A professora, talvez porque me achasse com algum jeito para desenhar mas também pela leitura, emprestava-me o "Camarada" e eu quando ia guardar as ovelhas, embrulhava cuidadosamente o jornal (formato A4, colorido) e deliciava-me a ver os desenhos de José Garcês, Baptista Mendes, Manuel Ferreira, Fernandes Silva, Carlos Roque, etc. Algumas histórias eram tão boas que nunca mais esqueceram. Mas havia um desenhador que me fascinava, embora (só o soube muito mais tarde) fosse arquitecto: Júlio Gil. Aqueles "risquinhos" soltos, aparentemente sem ligação, formavam desenhos lindíssimos. Por exemplo, numa alusão ao Natal, uma Nossa Senhora com Jesus ao colo: era uma mulher com um menino. Só. Mais nada. Durante o período que estive no mato em Angola, tudo o que fui coleccionando do "Camarada" desapareceu. Toda esta conversa vem a propósito dos desenhos que publicou e que me fizeram lembrar Júlio Gil. Acredite, gosto muito destes "risquinhos" soltos e "despreocupados".
Luciano
Luciano
ResponderEliminarAgradeço-lhe a sua apreciação relativamente aos risquinhos, pois também são do meu agrado.
Júlio Gil era um mestre do desenho e a forma espontânea como desenhava deixava uma gravura bem delineada e atraente, embora alguns presumam que é fácil essa execução gráfica.
Para além da série que ele ilustrou do Chico, fez muitas ilustrações para livros - incluindo um sobre santuários marianos - e o seu traço é inconfundível pela graciosidade e leveza.
Eu costumo desenhar com traços quando executo trabalhos que depois irei passar à arte final, aproveitando o essencial do desenho. Acontece que algumas pessoas opinam que o rascunho é mais agradável que o produto acabado, o que me leva a reconsiderar o aproveitamento deste estilo.
Há uma obra que eu considero muito bem executada, dentro destes parâmetros estéticos, que é da autoria de Pero (autor francês, natural de Grenoble) que tem um álbum publicado na Polvo e que tem por título "Ar Puro e Água Fresca". Para além do desenho aparentemente simples e espontâneo, não tem diálogos ou caixas de texto, uma vez que a leitura faz-se através das sequências expressivas, e são inexistentes as linhas dos enquadramentos. É obra que recomendo.
Santos Costa
Viva, boa noite
EliminarComo vê, normalmente só à noite consigo responder/escrever. Durante o dia continua aquele sufoco de tretas relacionadas com fiscalidade/contabilidade. Sim, porque agora a contabilidade está completamente submetida à fiscalidade, embora digam o contrário. Quase que faço vida dupla: de dia as tarefas obrigatórias, à noite a minha paixão das histórias e dos desenhos. A propósito de Ar Puro e Água Fresca que ainda não descobri aqui em Leiria, lembrei-me duma história também sem palavras, cores suaves e traços simples, de Ivo Milazzo (não sei se é assim que se escreve): As Crias. Acho que foi publicada nas Selecções BD. É uma das "magias" das histórias: conseguir "dizer" sem palavras.
Às vezes sinto vontade de "arrebanhar" os meus netos para a beleza das histórias e dos desenhos, explicar-lhes que aprendi a gostar de ler através do Camarada, que parte significativa do meu modo de ser vem desta paixão, mas... "Avô, deixe-se disso"...
Continua a ser considerada uma arte "menor". Vou fazendo uns bonecos que meto dentro de pastas, histórias "inventadas e nunca acabadas". Como o tempo de validade já não deve ser muito longo, pode ser que depois vejam "a coisa" de forma diferente. Ou então pegam nesta tralha toda e metem no lixo: "o avô tinha cada uma"...
Bom... estou a tentar redescobrir obras de Victor de la Fuente, cujo estilo acho "vigoroso" e que me agrada.
Boa noite e até um dia destes