Daqui a duas dezenas de anos, mais ou menos, dois senhores encontram-se para recordarem episódios passados, principalmente um incidente que ocorreu quando um era o chefe do (des)Governo deste País e o outro um alto quadro da Banca (e que Banca!).
Ouçamos o que dirão.
- Olha Armando, lembras-te daquelas chamadas que me fazias a perguntar como estava o tempo?
- Se me lembro, Zé, se me lembro!
- E a chatice que elas me causaram, não fossem os meus amigos da Justiça!
- Chiça!
- Afinal, para além do tempo, só contámos anedotas de alentejanos e uma daquela velhinha da oposição. Lembras-te?
- Lembro, Zé. Falámos muito do tempo... e da ferrugem.
- Da ferrugem, Armando?! Qual ferrugem?
- Da que corrói o ferro, pá. A ferrugem é como o tempo e este é como a Justiça - dá tempo ao tempo.
- Ah!
- E falámos daquele meu carro velho que eu tinha quando fomos sócios dos combustíveis...
- A sucata, sim. Aquilo era uma sucata.
- Ora, aí está: vê lá se te lembras? Alguém estava do outro lado a ouvir e, mal se falou em sucata, tau! Até parece que os ouvi gritar, lá das catacumbas da secreta: apanhámo-los!
- Apanharam-te, queres tu dizer.
- Não, não apanharam, Zé, que a Justiça corre muito devagar. Julgo que o julgamento está marcado para daqui a seis meses.
- Ora bolas, Armando, logo quando eu estou em campanha eleitoral para renovar o mandato...
- A partir daí, telefone e telemóvel, internet e o diabo a quatro, nada de nada.
- Apenas estas conversas solitárias onde ninguém nos ouve.
- A propósito, aquilo que ali está não é um gato?
- É. Vamos atrás dele, pois acho que esteve à escuta e a gravar...
- Embora!
Deixemos estes dois anciãos na perseguição do bichano e continuemos a estrofe do Bandarra que serviu de título:
"Um dos três que vão arreio
Demonstra ser grão perigo;
Haverá açoite e castigo
Para gente que não nomeio."