A ideia de publicar as aventuras do Magriço vem de
longa data, dos inícios dos anos 90, mais precisamente há 23 anos.
A coisa começou quando o grande poeta, jornalista e
homem da rádio, Nuno Rebocho, me apresentou a Bento Vintém, editor e
proprietário da Europress. Numa conversa amena que tivemos na empresa, falou-se
de literatura e de banda desenhada e o Nuno falou do herói do séc. XV. A
conversa resvalou naturalmente para a Banda Desenhada, pois o Editor tinha-me
oferecido várias publicações da Europress. Logo ali nasceu a ideia de eu fazer
esse trabalho.
Meti mãos à obra, mas muito lentamente, porque
nessa altura eu mantinha a autoria dos textos de um programa diário na rádio e
um outro, semanal, todos com a duração de uma hora.
Não sei por que carga de água, decidi que o Magriço
devia ser apresentado como o Príncipe Valente, do Foster, pelo que o desenhei
sem balões e com o texto no fundo dos enquadramentos. Não foi por isso que não
foi editado; foi devido à minha teimosia e ao facto de ter desistido da ideia,
quando tudo apontava para que a obra seguisse.
Bento Vintém foi uma pessoa extraordinária, em todo
o bom sentido, paciente e um Homem de carácter, conhecedor do seu ofício e
muito culto. Se a coisa não foi para a frente, fui eu que me desinteressei,
nada mais. Por isso, digo: o Magriço não tendo sido editado pela Europress de
António Bento Vintém, não será editado por outra editora, a não ser por mim.
Da carta que me enviou em 9 de Março de 1992, Bento
Vintém dizia (e com toda a razão:
“Vamos enviar-lhe, conforme combinado, a proposta
de Contrato para a edição de “As Aventuras do Magriço”.
“Observamos, no entanto, que a simplificação do
traço, que se regista nas cópias de pranchas que nos fez chegar, se afastam um
pouco do trabalho que primeiramente nos mostrou, talvez com perda relativamente
ao projecto inicial.
“É óbvio que esta observação em nada influi no
acordado. Tão só deve ser considerada como opinião construtiva (pretende-o
ser), na medida em que nos apraz muito mais editar Fernando Jorge Santos Costa –
ele próprio – do que Harold Foster. Por outro lado, temos esperança neste
projecto de “As Aventuras do Magriço”, as bastantes para que sejamos tentados a
acompanhar com atenção o seu trabalho.
(…) “Nada a opor à ideia de rotulação nos espaços
inferiores das vinhetas, em vez da utilização de balões, embora daí possa
resultar alguma dificuldade de leitura, o que também pode ser contrariado pela
plasticidade do desenho.
“Conforme acima referimos, vamos enviar-lhe o texto
do Contrato nos próximos dias.”
Como disse, não prossegui com o trabalho,
deixando-o em arquivo, com meia dúzia de pranchas desenhadas e enquadramentos
estilo Foster.
António Bento Vintém faleceu em 2013. Aproveito
para deixar aqui esta homenagem ao Homem e ao Editor, ao seu espírito lutador e
combativo de antifascista, empreendedor e pessoa de trato excepcional, e que,
se não editou obra minha, a culpa não foi dele.
Mais tarde, em 1998, coloquei balões e levei treze pranchas a uma publicação que andava a editar há 12 anos - O Almanaque (1998), edição anual, obra em formato livro de 224 páginas, papel couché e encadernada à linha, com tiragem de 1000 exemplares - de que junto uma das páginas, a 158 da publicação.
Eis por que eu digo que O Magriço não irá parar a
outra editora a não ser a minha (sim, a minha, porque já não é a primeira vez
que o faço, a contento), obra que já modifiquei (talvez para pior, porventura
para melhor) ao longo deste quarto de século.