domingo, 14 de junho de 2015

O "NASCIMENTO" DO MAGRIÇO NA EUROPRESS


A ideia de publicar as aventuras do Magriço vem de longa data, dos inícios dos anos 90, mais precisamente há 23 anos.
A coisa começou quando o grande poeta, jornalista e homem da rádio, Nuno Rebocho, me apresentou a Bento Vintém, editor e proprietário da Europress. Numa conversa amena que tivemos na empresa, falou-se de literatura e de banda desenhada e o Nuno falou do herói do séc. XV. A conversa resvalou naturalmente para a Banda Desenhada, pois o Editor tinha-me oferecido várias publicações da Europress. Logo ali nasceu a ideia de eu fazer esse trabalho.
Meti mãos à obra, mas muito lentamente, porque nessa altura eu mantinha a autoria dos textos de um programa diário na rádio e um outro, semanal, todos com a duração de uma hora.
Não sei por que carga de água, decidi que o Magriço devia ser apresentado como o Príncipe Valente, do Foster, pelo que o desenhei sem balões e com o texto no fundo dos enquadramentos. Não foi por isso que não foi editado; foi devido à minha teimosia e ao facto de ter desistido da ideia, quando tudo apontava para que a obra seguisse.
Bento Vintém foi uma pessoa extraordinária, em todo o bom sentido, paciente e um Homem de carácter, conhecedor do seu ofício e muito culto. Se a coisa não foi para a frente, fui eu que me desinteressei, nada mais. Por isso, digo: o Magriço não tendo sido editado pela Europress de António Bento Vintém, não será editado por outra editora, a não ser por mim.
Da carta que me enviou em 9 de Março de 1992, Bento Vintém dizia (e com toda a razão:
“Vamos enviar-lhe, conforme combinado, a proposta de Contrato para a edição de “As Aventuras do Magriço”.
“Observamos, no entanto, que a simplificação do traço, que se regista nas cópias de pranchas que nos fez chegar, se afastam um pouco do trabalho que primeiramente nos mostrou, talvez com perda relativamente ao projecto inicial.
“É óbvio que esta observação em nada influi no acordado. Tão só deve ser considerada como opinião construtiva (pretende-o ser), na medida em que nos apraz muito mais editar Fernando Jorge Santos Costa – ele próprio – do que Harold Foster. Por outro lado, temos esperança neste projecto de “As Aventuras do Magriço”, as bastantes para que sejamos tentados a acompanhar com atenção o seu trabalho.
(…) “Nada a opor à ideia de rotulação nos espaços inferiores das vinhetas, em vez da utilização de balões, embora daí possa resultar alguma dificuldade de leitura, o que também pode ser contrariado pela plasticidade do desenho.
“Conforme acima referimos, vamos enviar-lhe o texto do Contrato nos próximos dias.”
Como disse, não prossegui com o trabalho, deixando-o em arquivo, com meia dúzia de pranchas desenhadas e enquadramentos estilo Foster.
António Bento Vintém faleceu em 2013. Aproveito para deixar aqui esta homenagem ao Homem e ao Editor, ao seu espírito lutador e combativo de antifascista, empreendedor e pessoa de trato excepcional, e que, se não editou obra minha, a culpa não foi dele.
Mais tarde, em 1998, coloquei balões e levei treze pranchas a uma publicação que andava a editar há 12 anos - O Almanaque (1998), edição anual, obra em formato livro de 224 páginas, papel couché e encadernada à linha, com tiragem de 1000 exemplares - de que junto uma das páginas, a 158 da publicação.



Eis por que eu digo que O Magriço não irá parar a outra editora a não ser a minha (sim, a minha, porque já não é a primeira vez que o faço, a contento), obra que já modifiquei (talvez para pior, porventura para melhor) ao longo deste quarto de século.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

BANDA DESDENHADA


Página 21 do Mundo de Aventuras 464(1716)
trabalho meu publicado na revista, que mantenho encadernada no seu todo
em vários volumes

Quando iniciei a publicação dos meus desenhos no "Mundo de Aventuras" pensei: "eu faço esta trapalhada de riscos, pernas tortas, rostos patibulares, traços a mais e traços a menos, estou a dar cabo da arte. O melhor é seguir a veia da escrita, que me parece mais natural, e deixar para os mestres - que os havia e os há - a tarefa de contarem uma história com desenhos perfeitos e apelativos".
Porém, com o passar do tempo, e principalmente com a extinção das grandes revistas de BD nacionais, parece que a BD, ao atingir novos meios de difusão, se abastardou no que toca ao traço e ao desenho, o que de certa forma contribuirá para que, de banda desenhada, seja transformada em banda desdenhada.
Continuo a pensar que não será nesta vida que atingirei a perfeição do traço, mas apraz-me ver que há muitos autores que o conseguiram e contribuem para que esta forma de comunicação ainda seja tida por quem gosta de ler e de ver. Porém, infelizmente, aparecem trabalhos em que o desenho, por muitos rótulos pós-modernistas e de vanguarda com que os rotulam, fazem com que se desdenhe e se apresente esta arte como "menor", o que não corresponde à verdade. Escrever e publicar um livro de texto, parece que está ao alcance de qualquer um, mesmo aqueles que não têm nada para contar e muito menos como o fazer. Já o mesmo não se diz da publicação desenhada, a qual não está ao alcance de todos.
Mas...Ah! Engano meu! Quem quer, quem tenha papel e canetas, faz BD, ainda que os arabescos sejam de tal forma disformes que não se consegue distinguir um comboio de uma centopeia ou de um cavalo de um tronco de árvore ressequida. Paradoxo dos paradoxos, logo aparecem os comentadores a "lerem" arte ressumada pelas vinhetas (quando as há), ainda que as páginas tenham duas ou três figuras pinceladas a negro, vendo na "coisa" grande qualidade estética e gráfica, tal a do sobretudo que aquele tal realizador colocou a tapar a lente da câmara para apresentar a Branca de Neve.
Há desenhos que aparentemente são simples e de traço sinuoso, mas têm arte e não são fáceis de executar. Há jovens autores portugueses que conseguem trabalhos de grande beleza sem grande "perfeição" do traço, mas lê-se e vê-se a sua arte espelhada nessas obras. O pior é quando, a par de um desenho "deficiente" a narrativa ainda seja pior, lamechas, vazia, deprimente. Enchem-se prateleiras dessas "coisas", que não são adquiridas, o que leva os livreiros a relegarem para espaços de "vão de escada" essas preciosidades, carreando a chouto outras obras que são de maior valia.
Na net, onde a coisa é de borla, posta-se a riscalhada obtida do scanner e vê quem quer. Com o papel e a tinta, a coisa pia mais fino: a parte tipográfica é a mais simplificada, basta esportular o custo do tabaco e do café de um ano; a distribuição e a venda é que são "o cabo dos trabalhos"!
A coisa vende? Não sei, mas venderá, se pensarmos que os cinquenta, oitenta ou cem exemplares em formato de caderno (que tem a vantagem de não ser ratado pelo Depósito Legal), esgotem pelos amigos, que fazem o favor ao ego do autor. 
Não sou crítico de BD e não me pronuncio sobre obras ou sobre os autores, nomeando estas e aqueles, porque respeito o trabalho de cada um, assim como os gostos de quem adquire. Não contem comigo para entrar nessas andanças, se bem que nada me leva a recear fazê-lo. É uma questão de princípio, pronto!
Não sei se sou dos que contribuem para a "banda desdenhada", se é que esse desdém provenha apenas da qualidade e não da forma. Continuarei a escrever e a desenhar - e a publicar quando e como quero - mesmo que, por vezes, tenha de considerar como Aquilino (que já parafraseei de outras vezes): quis fazer uma gamela, saiu-me um tamanco.


terça-feira, 9 de junho de 2015

PORMENORES


Aprecio envolver todos os pormenores, designadamente os que respeitam aos monumentos, nas vinhetas das minhas bandas desenhadas. No caso de O Magriço, fácil foi para mim fazer a repérage
(termo ligado ao cinema quando se procura os décors onde irá decorrer a acção), pois estou perto dos monumentos e sítios relativos ao enredo.
É o caso destas três vinhetas: a de cima, com o castelo de Trancoso; as duas inferiores, com um pormenor das muralhas exteriores de Trancoso (Portas d'El-Rei) e o castelo de Penedono.



segunda-feira, 8 de junho de 2015

LENDAS DO DISTRITO DA GUARDA


Está pronta esta obra. São quase duzentas lendas de catorze concelhos, levadas a um trabalho de 100 páginas, a ser impresso em papel couché, formato A4 e cartonado. Tem o apoio de metade dos concelhos, através da aquisição de alguns exemplares e segue em breve para a gráfica.


São duas lendas por página, todas elas ilustradas e também todas elas com o mesmo tamanho de texto, exercício que fiz sem retirar os elementos essenciais de cada uma delas.
Deixo no blog duas páginas escolhidas ao acaso e retiradas de uma base, montada em formato "word", para trazer aqui.
Os textos reproduzidos nestas duas páginas ainda não foram revistos, pois é um trabalho que tenho entre mãos. Todas as ilustrações, assim como os textos e adaptação dos mesmos, são da minha autoria.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

O COMBOIO DOS ÓRFÃOS


Este é um dos títulos que faz parte da minha próxima lista de compras de BD. Considerados o desenho e a cor de grande categoria estética e documental, mormente na conseguida ambiência da época, o enredo interessa-me (interessa-nos), como europeu, porque circula à volta de um período conturbado da História europeia e as relações de acolhimento do lado de lá do Atlântico. Por incrível que pareça, estes acontecimentos não são apenas do passado, porque ainda se repercutem actualmente em qualquer parte do mundo.
A editora escolheu bem este trabalho de Philippe Charlot e Xavier Fourquemin, num álbum duplo que constitui o primeiro ciclo da obra.
Trago aqui ao meu blog esta obra porque acredito que a Arcádia/Babel está a apostar na BD de qualidade e porque recebi no meu e-mail esta novidade. Cortesia com cortesia se paga.

Características:
96 páginas
Cor
476x320x12 mm
PVP 20,80 euros

Sinopse da Editora:

O Comboio dos Órfãos é uma história sobre mobilidade e desenraizamento, que nos mostra um momento menos conhecido mas muito significativo da História dos Estados Unidos da América.
Na costa leste dos Estados Unidos, a onda de emigração maciça leva ao abandono de muitas crianças vindas da velha Europa. Miseráveis entre os mais miseráveis, as crianças abandonadas e maltratadas sobrevivem à custa de pequenos furtos e mendicidade nas ruas de Nova Iorque. Só nesta cidade, eram cerca de 20 mil em 1854, ano em que foi posto em prática o primeiro programa de adoção, conhecido pelo nome de “Orphan Train Riders”. Inicialmente artesanal, este sistema adquiriu rapidamente uma dimensão e uma eficácia quase industrial. Quando a iniciativa terminou, em 1929, cerca de 250.000 crianças haviam sido enviadas para o Oeste.


O reverendo Charles Loring Brace foi o primeiro a acreditar que retirando estas crianças do seu ambiente nocivo, poderia transformá-las em cidadãos irrepreensíveis. No estados do Middle West, havia falta de mão-de-obra e muitos casais que não conseguiam ter filhos… Pelo que seria possível enviá-las, por comboio, de uma costa à outra dos EUA. As primeiras viagens foram um êxito.
Recorrendo a agentes locais, Loring Brace instituiu o princípio dos cartazes que anunciavam a chegada das crianças para adoção. As “distribuições” realizavam-se no teatro, na ópera, na igreja, ou até no cais da estação. Os nomes, ou números, pregados nos casacos dos mais novos permitiam que os agentes os identificassem facilmente. Era frequente que estas sessões se assemelhassem a uma feira de gado. Compostas, na sua grande maioria, por agricultores, as famílias de acolhimento exigiam o direito de verificar o estado de saúde (principalmente dos dentes) dos meninos e meninas que lhes eram apresentados. Era raro que fossem imediatamente adotados. A única obrigação das famílias de acolhimento consistia em tratá-los como se fossem seus filhos, até atingirem os17 anos. Obviamente, muitos eram considerados apenas como mão-de-obra barata, mas, para o reverendo, era uma situação melhor do que aquela em que viviam nas ruas de Nova Iorque.

Este livro relata uma longa viagem pautada pela amizade, pela entreajuda… mas também pela traição.      

terça-feira, 2 de junho de 2015

O VÍCIO DO DESENHO



Podia falar de dois vícios, o do desenho e o da escrita, como se estivesse a falar dos vícios do álcool e do tabaco. Como não tenho os dois últimos, continuo com os dois primeiros, juntando-os consoante o meu engenho e arte.
Não sou perfeito e a anos luz da genialidade, mas faço o que posso e o que me dá na gana, principalmente porque quero agradar a mim próprio em primeiro lugar. Se gosto, continuo; se não gosto, não paro (se tanto, suspendo), para rectificar e modificar.
No trabalho que tenho entre mãos - melhor seria dizer da cabeça aos pés - é este Magriço que estou a alterar, depois de mais de trezentas páginas feitas a preto. Caberia na cabeça de alguém modificar três centenas de páginas, depois de as ter completas? A resposta é dada por mim: sim!
Com a peça teatral o Magriço, inaugurou-se o Teatro Nacional D. Maria II (texto que eu ainda não li para não me influenciar), mas é com a perspectiva do écran dos cinemas que eu modifico os enquadramentos e as vinhetas: por página, em norma, são três, em "cinemascope ou Cinema Scope". De quando em quando lá surgem duas vinhetas em uma, se a acção merece esse enquadramento.

Lá vou progredindo, redesenhando para aplicar a cor, modificando alguns pormenores, corrigindo gestos e outras imperfeições, na certeza de que ficarão muitas mais.
Logo que esteja pronto o trabalho, peço à gráfica a alteração do orçamento inicial, incluo a encadernação à linha e a capa cartonada com guardas impressas, para a obra seguir à sua vida.