Tenho vindo a prometer para aqueles que mais se interessam por este ramo da etnografia, a publicação regular de algumas crendices e superstições, uma vez que tenho um livro publicado com um naipe de assuntos desse teor, devidamente arrumados por ordem alfabética.
Chegou agora a oportunidade de deixar aqui algumas (as primeiras) do capítulo ANIMAIS, pois estes tinham na sabedoria e no medo do povo, uma especial atenção.
- Os lagartos são amigos dos homens e as cobras das mulheres.
- Quando se deita penso ao gado, o dono não deve permanecer a
presenciar o repasto do animal.
- A coruja bebe o azeite das lâmpadas das igrejas.
- Matar um gato preto, acarreta sete anos de azar.
- Não se devem destruir as teias de aranha, por se acreditar que foi
uma daquelas teias que ocultou o Menino Jesus aos soldados de Herodes.
- Não se devem matar os aranhiços pequenos, porque são prenúncio de
dinheiro.
- Quando um cão uiva é sinal de morte próxima.
- Quando alguém encontra uma cobra a acasalar com um cobrão, deve
atirar-lhes um lenço, pois assim não deixará de ter sorte na vida.
- Quando se ouve uma rã cantar, é sinal de bom tempo.
- Matar uma rã causa dor de cabeça. Dizem que s rãs vão diariamente ao
Céu para lavarem os pés de Nosso Senhor.
- Uma caveira de burro espetada num pau e colocada junto a um campo de
sementeira, espanta o mau olhado.
- Uma porca que ande a fazer criação deve trazer ao pescoço fitinhas
vermelhas, para se evitar o mau olhado.
- Para não se perderem os porcos que se deitam fora do chiqueiro,
mede-se-lhes a cauda com um pau e guarda-se este por baixo da pia.
- Quando se lança o sangue do porco para a panela, a fim de cozer,
deve-se proceder como se estivesse a chamar o porco, a fim de fazer crescer a
cozedura.
- Não se devem matar as andorinhas, que são as pitinhas de Nossa
Senhora.
- Não se deve ter na capoeira pita “galena”, isto é, que cante de galo.
- As cobras vão ter à cama com as mães dos recém-nascidos e metem a
ponta do rabo na boca dos petizes enquanto sugam o leite das mães.
- Se alguém tentar matar um sapo e este não fique bem morto, é certo
que o bicho vai de noite ter à cama de quem lhe fez o mal.
- Quando se observa um sapo, diz-se que nascem sapinhos na boca. Para o
evitar, deve-se cuspir três vezes de cada vez que se pronuncie o seu nome.
- O sapo é considerado o ajudante das bruxas.
- Quando alguém é mordido por um lacrau, ficará sem dores se utilizar
na ferida sangue de mulher menstruada.
- Quem tentar matar uma aranha, esta vai de noite ter com essa pessoa à
cama.
- Não se devem matar as rãs, que vão lavar diariamente os pés de Nossa
Senhor; quem o fizer, ficará com dores de cabeça
- Para tirar uma cobra que entre na boca de alguém, basta colocar-lhe
aos pés uma bacia com leite.
- Quando os animais “aguam”, o dono deve roubar uma folha de couve de
sete hortas sem os proprietários saberem.
- Noutra versão, para curar o augamento devem ser roubadas couves em
nove hortas.
- Quando a coruja “canta” sobre o telhado das habitações, é sinal de
morte próxima.
- Conta-se que a poupa era mulher do cuco, mas que ela andava
amancebada com o mocho. O cuco, enciumado, foi bater no cu do mocho e este,
enquanto apanhava, ia dizendo – ui, ui!. O cuco, a cada pancada, dizia – no cu,
no cu! A poupa, pelo seu lado, apelava – poucas, poucas! Assim é o canto deles.
- É mau sinal para uma pessoa ouvir cantar o cuco enquanto está em
jejum.
- Quando algum animal (vitela ou vaca) tiver infecção, dá-se-lhe água
de linhaça e grão de linho cozido.
- As “névoas” (feridas nos olhos) das vacas curam-se com mel,
aplicando-se este directamente nos olhos infectados do animal.
- As mulheres menstruadas não se devem aproximar dos furões, porque
eles morrem. Estes bichos não devem ser tratados por mulheres.
- O bafo das vacas é santo, porque Nosso Senhor nasceu junto de um
daqueles animais, o qual O aqueceu.
- Quando se arranca um cabelo pela raiz e se deixa mergulhado durante
muito tempo em água, engrossa e transforma-se em cobra.
- Quando se passa por um sítio onde um burro se espolinhou no chão,
deve-se cuspir nesse sítio três vezes para não nascerem “trilhaduras” nas
plantas dos pés.
- Quem vir uma centopeia e quiser matá-la, para que ela não fuja deve
dizer: São Bento te tolha.
- Quando se vê um sapo, deve-se cuspir três vezes, pois ele é
venenoso ; igualmente, quando se
pronuncia a palavra sapo, deve-se fazer a mesma operação, para evitar que
nasçam “sapinhos na boca”.
Este assunto dava pano para mangas, e poderia ser interessante, desde que acompanhado de gravuras ou fotografias adequadas a cada um dos "personagens". São documentos orais da sabedoria (ou crenças) do nosso povo que, com o passar de gerações, se vão perdendo, caso não sejam editados num suporte para consulta.
ResponderEliminarDe facto, colocando inagens em cada um dos "personagens", elevaria o interesse da leitura.
ResponderEliminarAquilo que publiquei sobre este tema já não se perde; muitos dos informadores - que cito no meu livro, com três edições já esgotadas -já faleceram. Como se diz em África: quando se perde um velho numa aldeia, arde uma biblioteca.