Aí pelos meus quinze e dezasseis anos de idade,
vivi durante as férias liceais na aldeia onde os meus pais tinham um comércio.
Nesses períodos, para além de atender a freguesia da mercearia (o que não me
agradava nada) e de ouvir música no rádio da taberna, tinha a leitura de banda
desenhada e de alguns pequenos livros de cow-boys da APR (A Colecção Seis Balas
e a Colecção Cow-Boy) que uma vizinha de 75 anos, com algumas posses, me
emprestava, depois de ela própria os ler. A senhora devorava romances de
aventuras e privilegiava as do “farwest”! Trazia-me, às vezes, dois exemplares
de cada vez, com prazo de devolução, o que eu cumpria depois de os ler, às
vezes intercalando a leitura de um com a de outro. Como se deve compreender,
isto exigia um exercício de concentração e de memória, treino que me valeu para
futuro.
Quando na empresa municipal fiz nascer um jornal dos
tempos (efemérides), tinha dois colaboradores a preencherem as colunas e
ditava, para os dois, textos diferentes para preenchimento das manchas. Às
vezes, é certo, precisava ouvir os últimos vocábulos ditados, à guisa de deixa
teatral.
Vem este “relambório” a propósito de manter esse exercício,
agora não na leitura (por não ter livros para devolver e não ficar à espera
pelos que empresto), mas nos trabalhos que faço, ora no desenho ora em texto.
Não se admirem que tenha dedicação, em certos dias,
à BD do Bandarra – que a vinheta
deste post representa –, como aos riscos e rabiscos de A Rainha Africana, sem esquecer que tenho de ir trabalhando no
almanaque trimestral, preenchendo as suas mais de 200 páginas. Para mais ainda
abracei graciosamente leccionar História na US aqui da terra. Isto significa
que, tendo o recurso a apenas duas mãos e a uma cabeça que tem lá tudo sem
necessidade de apontamentos no que toca à acção, nunca me canse de um projecto
porque passo de um para outro, em matéria de gosto e apetite, como salto de
corça.
A minha arte no desenho – e até na escrita – é assim
fruto da minha forma de ser: tosca, inocente, primitiva e até, por vezes,
pueril. Não sou muito de rejeitar trabalho e aproveito tudo. Esta vinheta em
pórtico da peça é exemplo deste meu paladar cultural na execução dos “bonecos”,
tão só porque aproveitei (para não fazer outras) estas duas figuras que
desenhei após a observação de desenho de fardamentos de época, dois soldados
franceses que já serviram para outro trabalho meu e que agora descaradamente
pretendo repetir.
Toda a minha obra é, acima de tudo, fruto da
vontade; tomara eu que o engenho viesse de mão dada com esta.
Boa noite caro amigo
ResponderEliminarA alternância, tal como na politica,enrijece as faculdades.
O meu amigo, à pala disso, vai atingir os 100 anos.
Mais Obra fica.
Um grande abraço e boa semana.
José Avelino
Boa noite caro amigo
ResponderEliminarA alternância, tal como na politica,enrijece as faculdades.
O meu amigo, à pala disso, vai atingir os 100 anos.
Mais Obra fica.
Um grande abraço e boa semana.
José Avelino
Caríssimo Amigo
ResponderEliminarDr. José Avelino
A alternância, de facto, consegue espantar o marasmo e a rotina.
Quem me dera gostar e saber de carpintaria para fazer obra aproveitável! Ou de outra arte manual qualquer...
Veja bem que, por convite, acabei por abrir mais um parêntesis nestas semanas de continuada labuta entre a escrita e o desenho, aceitando dar lições de História em aulas seniores, preenchendo uma disciplina numa das ditas US (Universidades Seniores).
Nem assim esqueço que devo comunicar pela palavra e pelo desenho, de tal sorte que vou preenchendo os quadros negros da sala
com traços de giz: ora no desenho de um monumento, ora num mapa que configure as muralhas e as operações militares, etc.
Quanto a viver até aos 100 anos não digo sim ou não, porque me parece que não depende de mim tal objectivo, nem se afigura que, pelo andar da carruagem, eu contribua para atingir essa distância.
Um grande abraço de Amizade
Santos Costa