O
OBJECTOS. Aconselham a que nenhum objecto partido deve ser
mantido em casa, na passagem de ano; eu diria mais, tudo o que tresande a
partidos. Se tiver por lá uma geringonça, rua com ela!
Deve deitar fora todas as más recordações impressas,
como as fotografias dos ditadores e quejandos – possivelmente trará bom augúrio
para si e para o País.
Tendo em conta esta tradição, já esteve mais longe a
ideia dos municípios aumentarem a taxa sobre a gestão de resíduos sólidos
urbanos, bem como a taxa de protecção civil, a da conservação dos esgotos e uma
outra, a criar, sobre mobiliário do ano velho fora de casa.
ORAÇÕES. De barato seguem algumas orações indispensáveis ao
espantar das abominações.
Uma delas, dita ao deitar, faz com que as bruxas não
se metam com o dorminhoco, o mesmo que é dizer, numa linguagem mais pueril, que
se intrometam entre quem dorme e o João Pestana. E reza assim: “Oca, marnoca,/
três vezes oca;/ pé no pé, freio na boca;/ trista com trista,/três vezes
trista,/ S. Pedro e S. Paulo/ e S. João Evangelista/ao redor da minha casa
assista”.
Esta outra é digna de memorização: “Eu me apego a S.
Silvestre/ e à camisa que ele veste,/ e ao círio pascal,/ e às três missas do
Natal,/ para que nem homem nem mulher, me possam fazer mal”.
Para a colecção, mais esta: “S. Pedro, S. Paulo e S. João
Evangelista/ em redor da minha casa assista;/ se alguma bruxa, feiticeira ou
melgueira comigo quiser entrar,/ conte primeiro as areias do mar”.
Lá vai a última, pois o que já foi dito equivale a uma
consulta com preçário muito superior ao valor da sua sobretaxa de IRS. Assim,
para fazer fugir uma bruxa que se reconheça, deverá dizer-se: “Tu és ferro,/ eu
sou aço,/ tu és o diabo/ e eu te embaço”.
Se julgam que isto é uma falácia, saída do bestunto
deste “enciclopedista” desnorteado, experimentem ouvir uma avisada aldeã (das
poucas que resistem), no exorcismo de berço de uma criança que abra a boca num
bocejo: “Anjo bento, o Espírito Santo te entre pela boquinha adentro”.
Mais tarde, a mesma criança, agora já homem no Parlamento, poderá ouvir da mesma aldeã: “(marm)anjo de S. Bento, um moscardo te entre pela
bocarra adentro!”.
P
PENEIRAS. São crivos para peneirar farinha ou qualquer outra
substância a refinar, mas também servem como passagem de testemunho no âmbito
deste enlevo do oculto.
Eu explico: quando alguém, tido com poderes de bruxaria,
estiver para morrer, só finará quando lhe entregarem uma peneira; a pessoa que
faz a entrega ficará com os poderes de bruxaria transmitidos pela moribunda.
Esta passagem é conhecida como entrega dos “novelos do mal” .
A principal questão – e eu coloco-a antes que me façam
essa pergunta – é saber se, à falta da passagem de testemunho, a bruxa não se
arrisca a ter uma vida perpétua. Digo isto porque vai ficando escasso o fabrico
de peneiras. No entanto, se lerem o parágrafo seguinte (que o legislador
introduziu para prevenir estas casualidades), ficarão com a resposta.
Parágrafo único – à falta de peneira, o contacto simultâneo
de ambas as mãos supre a ausência do adereço.
PORTAS. Entradas pouco utilizadas pelas bruxas – e pelo Pai
Natal, acrescente-se também – uma vez que preferem a forma bizarra da entrada
pelos telhados e pelos buracos das fechaduras.
Suponho que também entrem pelas chamadas “portas do
cavalo”, umas entradas que geralmente têm um letreiro a avisar que é para uso
exclusivo do pessoal ao serviço, mas por onde entram os amigos sem senha de atendimento.
Quem não tem certezas, bem fará em ganhá-las. As
bruxas entram por todo o lado, com portas ou sem elas. Com a mesma facilidade,
com ou sem portas, também entram na política. Cruzes, credo!
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