Numa extensa peça que publiquei na revista dominical Notícias Magazine (Diário de Notícias,
Jornal de Notícias e Notícias da Madeira), em 28 de Março de 1999, dedicada a tabus e alcunhas de povos, referi-me à
problemática e a uma certa cacofonia de topónimos que se mantêm no País. E
desse artigo extraio o pequeno bosquejo que segue.
Imagine-se
ter nascido em Porcas (Trancoso), em Parvoíce (Guarda), Poço dos Cães (Ansião),
Picha (Pedrógão Grande), Cabrum (Vale de Cambra) ou em Vale de Ladrões (Meda).
Embora seja tradição em Barrancos o touro levar a estocada fatal é mais para o
norte que surge o topónimo Matança (Fornos de Algodres). Fernão Porco pertence
a Oleiros, mas o Casal dos Chouriços é da Figueira da Foz e o Monte dos
Toucinhos em Almodôvar. A Vila da Barba adere a Santa Comba Dão, mas é São
Pedro do Sul quem tem as Barbas e Avis quem conta com Barba Torta. Se há um
lugar chamado Parvoíce, também os há com os topónimos de Juízo (Pinhel) e
Memória (Albergaria dos Doze). Arrepiando caminho por estes topónimos nacionais,
não se caia na Esparrela (Porto de Mós) em pisar o Rabo do Gato (Vila Real),
pois seria um Diacho Velho (Guarda). A Venda do Brasil (Ansião) não corresponde
propriamente a um negócio, mas veríamos com bom gosto a sede das companhias de
seguros no lugar do Rapa (Celorico da Beira). Quanto a Fiscal (Lousã),
ficam-nos os cabelos em pé!
Perante o
paradoxo de uma Taberna Seca (Castelo Branco), contas feitas a martelo
levam-nos até Torneira (Louriçal), na esperança que desta não saiam Vinagres
(Pombal). Para os abstémios, a Ponte do Bebe e Vai-te (Oliveira do Bairro). De
preferência o Bom Viver (Guimarães), ao Chiqueiro (Lousã) e ao Hospital
(Braga). De Pedrógão Grande, onde consta uma Picha, até Tondela, onde figura o
Carvalhal da Mulher, vai a distância do decoro da coisa pública. O topónimo
Esfrega (Proença a Nova), como lêem, foi retirado do parágrafo anterior. Cabe
ao leitor a serenidade e o livre-arbítrio para juntá-los. O Casal do Grelo (Figueira
da Foz), a Comichão (Guarda) e o Coito (Viseu) escusam comentários e
zombeteiras comparações, de que nos livra Nossa Senhora dos Homens (Avis).
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