segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

AUTO EDITOR, GRAÇAS A DEUS


Hoje deu-me para boa!...
Pegar nos Lusíadas e escolher esta estrofe 145 do Canto X e reescrevê-la com alterações de vocábulos.

Não mais, Musa, não mais, que a imaginação tenho
Destemperada e a mão entorpecida,
E não do trabalho, mas de ver que venho
Escrever a gente desinteressada e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá qualquer editora, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.

Esta paráfrase adulterada ao talante de um autor cansado e desiludido, não me diz respeito no seu todo.
Primeiro: considero-me um autor prolixo (talvez, decompondo o termo, a arte seja pro-lixo), pelo que não consigo suster a imaginação que cria, cria, cria...
Segundo: apesar de escrever e desenhar para um mercado restrito, não me queixo.
Terceiro: não recorro a editores desde há algum tempo, a partir da data em que uma editora não deu resposta a um trabalho proposto. Foi uma vez, mas chateou-me. Até nem levaria a mal que a resposta fosse negativa, do género - "o programa editorial está preenchido" ou "não estamos interessados por não fazer parte da nossa linha editorial", mas nada! Nem um email a dizer "recebemos o original, vamos analisar" e depois silenciarem.
Para o raio que os parta! Vacinaram-me de tal maneira que, a bem dizer, não quero saber mais daquela ou de outra chancela para dar corpo à multifacetada criação. Não tenho a pachorra da autora do Harry Potter, que enviou o seu primeiro romance para oito editoras (oito) e valeu-lhe a persistência e a visão editorial da  Bloomsbury.
A propósito, quero dizer que enviei uma BD para uma editora espanhola. Estes  foram simpáticos, recusando o trabalho e agradecendo o ter-me lembrado de lho enviar. Curiosamente, esquecendo-se que já me tinham dado a resposta, meio ano depois veio a mesma, exactamente igual.
Também já me aconteceu um editor pedir-me um trabalho para um livro biográfico de uma personagem real do séc. XIX e, quando veio para receber o original, pôs tais condições sobre os direitos de autor que eu disse: "não vai ser editado, fico com ele para mim, nem que seja para servir de calço a uma cristaleira paralítica, que não tenho".
Publico eu e pronto. Escrevo, desenho, pagino, faço as capas, envio para as gráficas para imprimirem... só imprimirem; ou, quando não vejo saída para o "nascituro", arrumo-o num escano do arquivo e lá fica até me lembrar o que fazer para o trazer à luz.
Serve todo este arrazoado para dizer que tenho muitos originais - a maioria contos de diversos segmentos literários - arrumados, os quais, a par dos editados, vou periodicamente passando a livro de lombada grossa. Em todos eles há sempre um projecto de capa (adoro fazer capas).
É sobre estes que colo aqui dois exemplos, sendo que "Ódio Velho" saiu numa revista cor-de-rosa com a tiragem de 400.000 exemplares, com outra ilustração como é evidente.



O segundo exemplo é um conto, em texto, com base em algumas vinhetas da obra desenhada sobre "O Magriço".
Por isso, ao contrário do poema de Camões que adulterei, digo: mais, Musa, ainda mais...
Eu darei vazão à tua ajuda, Musa, de tal sorte que, em dias de muita pachorra, escrevo um conto completo ou desenho duas pranchas de banda desenhada. E não te importes com os editores, que eu também não.

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