A imagem que abre este "post" não faz parte da edição original de BD, entretanto publicada em finais dos anos 90 no semanário "O Crime". A reprodução seguinte, essa sim, original, é uma imagem intercalar da meia prancha em outro formato (horizontal) que então utilizei para compor uma página inteira do jornal, composta assim de duas meias pranchas.
A este assunto já me referi neste blog, em outubro de 2013, tendo então recebido respeitáveis e pertinentes comentários neste blog, designadamente de dois amigos, o Jorge Magalhães (recentemente falecido) e do Geraldes Lino.
Por serem de grande elevação, critério e conselho, reproduzo então esse "diálogo" (em itálico) que mantivemos neste mesmo blog, na caixa de comentários - e, por isso, do domínio público e de leitura on-line, o que me permite reproduzi-los aqui -, bem demonstrativo do interesse que a BD representa para aqueles dois expoentes elevados nesta arte gráfica de comunicação e entretenimento.
25 de setembro de 2013
Já não me lembrava muito bem destas páginas, mas que a história é
violenta, lá isso é... E as cenas "picantes" condizem com o resto!.
Repito o que já disse aqui: em termos de realismo, num estilo nu e cru,
mas com expressivos contrastes de preto e branco, esta história de crimes, sexo
e sevícias agarra o leitor e merecia, sem dúvida, uma reedição.
Abraços do
Jorge Magalhães
25 de setembro de 2013
Pois é, Jorge, dei a resposta atrás ao Nuno, leio agora o seu
comentário que vem confirmar a opinião generalizada sobre o cariz duro e cru
daqueles episódios relativos ao Diogo Alves.
À medida que ia construindo o "folhetim", ia recebendo
algumas opiniões, próximas e distantes, umas vez que estava a ser publicado, e
eu na continuação do desenho, episódios adiante. Neste, talvez tivesse ido
longe demais...
Abraço
Santos Costa
28 de setembro de 2013
Não, não creio que tenha ido longe demais! Era preciso enveredar por um
tom ultra-realista, sem ter medo de ferir a sensibilidade dos leitores, para
retratar os crimes violentos perpetrados pelo Diogo Alves. Em vida, o facínora
não deve ter sido muito diferente da criatura brutal e sanguinária, sem
consciência, que você materializou nesta história. E o cenário nu e cru,
inclusive as próprias cenas de sexo, tornam o ambiente e a reconstituição da
época ainda mais verídicos, como se estivéssemos por dentro da história e não
apenas a ler um registo criminal ou um artigo biográfico.
Abraços,
Jorge Magalhães
30 de setembro de 2013
Caro Jorge
Depois de andar pela estratosfera dos assuntos particulares pendentes,
regresso à blogosfera, onde mais pendências há.
É certo que a BD foi executada para um jornal com o âmbito das notícias
de violência e crime, justamente exposto no título, pelo que, da minha parte,
não podia escamotear, nessa realidade factual e provada em autos corridos ao
tempo, a actuação violenta e as cenas de sexo (apenas são ficcionadas, mas
óbvias, aquelas entre a Parreirinha e o Diogo Alves, porque no processo se
determinou que eram amantes), com alguma crueza e brutalidade. Valeu-me, para
não chocar os leitores (julgo eu), o sangue correr pelas vinhetas, a preto.
Abraço
Santos Costa
7 de outubro de 2013
Realmente o realismo desta história, tanto na planificação do argumento
como no grafismo, é quase visceral, e calculo que não seria nada fácil, com
cenas tão violentas, transplantá-la para o cinema, embora me lembre de que
houve, nos alvores da nossa cinematografia, uns "Crimes de Diogo
Alves", realizados já não sei por quem.
Particularmente, acho a rudeza do traço e da caracterização de Santos
Costa, com sóbrios contrastes de branco e negro, e a fluidez e o ritmo da sua
narrativa, os melhores trunfos deste trabalho, que bem merecia ser publicado em
álbum.
Abraços do
Jorge Magalhães
7 de outubro de 2013
Jorge
Houve dois filmes: um, de 1909, que foi realizado por Linbo Ferreira (
mas não o acabou) e por João Freire Correia (que o concluiu); outro, de 1911,
dirigido por João Tavares.
Na prancha 1 reproduzi um fotograma do último dos filmes.
Estes trabalhos tinham de se apresentar, tanto quanto possível,
completos e sem delongas de permanência, o que indicava que não seria bom para
os leitores estarem semanas e semanas com a mesma "figura". Daí não
estar com grandes descrições e pormenores, embora tivesse material para o
fazer. Esta regra, que não me foi imposta, resultou numa dinâmica de tal ordem
que percorri o corredor criminal português. Um dia que me der de pachorra,
porei os títulos publicados.
Quanto à eventual publicação em álbum, o formato é do tipo italiano, o
que não daria muitas páginas, no máximo dois cadernos. Reduzindo para duas
tiras por página (com 3,4 ou 5 vinhetas), como estou agora a fazer com o José
do Telhado, o formato fica mais quadrado e o número de páginas aumenta, uma vez
que, encaixando as vinhetas a par, sem as amputar, há que aumentá-las de
tamanho ou colocar outras, intercalares, no seguimento da trama.
Um outro trabalho que gostaria de publicar em álbum é aquele que fiz
publicar, durante semanas, dedicado a Alves dos Reis, o falsário das notas de
500 escudos. Tive de desenhar os rostos de todos os envolvidos e, para o
efeito, consultei muita bibliografia sobre o caso.
Se soubesse que a BD tinha o mesmo êxito do meu livro de ficção de
"O Padre Costa", que já vai na 4ª edição e, só num dos postos de
venda, se conseguiu despachar 1.500 exemplares!... Ainda com a limitação, que
eu escolhi, de ser vendido a nível local, em apenas três estabelecimentos, sem
distribuição alguma, uma vez que não o submeti a editoras.
Um abraço
Santos Costa
Geraldes Lino 12 de outubro de 2013
Caro Santos Costa
Por que não propões isso ao Dr. Baptista Lopes?
Abraço,
P.S. - Desculpa, mas corrijo a tua gralha no nome do realizador Lino
Ferreira, que grafaste Linbo Ferreira...
12 de outubro de 2013 às 15:56
Estou a alterar alguns dos trabalhos que fiz para "O Crime".
Estou presentemente - alternando com o Magriço e outros de texto - com o
"José do Telhado", adaptando para aquele formato, mais propício a uma
leitura menos rectangular e horizontal.
"Os Crimes de Diogo Alves", "João Brandão", "O
Regicídio", "O Atentado a Salazar" e o "Alves dos
Reis", estão a seguir, não necessariamente por esta ordem.
Quanto ao Dr. Baptista Lopes, da Âncora (que não conheço pessoalmente),
poderá não estar interessado, uma vez que a editora tem elaborado parcerias com
instituições para os seus projectos editoriais.
Estes álbuns são feitos a preto e branco, pois foi assim que,
efectivamente, receberam publicação nas páginas do jornal.
Deste modo, a ideia está ainda no limbo (não linbo, a tal corruptela,
em forma de gralha, de Lino, como corrigiste - e bem), mas com perspectivas de
seguir adiante, embora ainda não saiba como.
Um grande abraço
Santos Costa
14 de outubro de 2013
A ideia de recuperar esta história, sobre aquele que deve ser o maior
criminoso português de todos os tempos, num novo formato e refazendo o
argumento, de modo a dar-lhe maior abrangência, ao mesmo tempo que as legendas
serão trabalhadas para lhes dar outro aspecto, parece-me uma óptima ideia,
amigo Santos Costa, e faço votos para que seja possível concretizá-la num
futuro próximo.
Também gostei particularmente, quando as li no "Crime", das
histórias da Giraldinha e do Alves dos Reis, embora esta seja mais do domínio
público.
Também iremos vê-las aqui no seu blogue?
Um abraço,
Jorge Magalhães
15 de outubro de 2013
Caro Jorge
Quando fiz o Diogo Alves, não conhecia o livro de Leite Bastos, que
romanceou sobre aquele biltre. Adquiri-o, há meio ano, através da Esfera do
Caos. Tem lá alguns pormenores - principalmente os relativos ao julgamento -
que não encontrei noutra bibliografia, designadamente a de Sousa Costa.
Isto leva-me à "maior abrangência", até porque há situações
que devem ser mais trabalhadas e ficcionadas, sem fugir aos factos
histórico-criminais.
A Giraldinha tem situações caricatas, mas pouco se encontra escrito
sobre ela. Limitei-me a trabalhar sobre os retalhos que fui encontrando,
designadamente os de Artur Varatojo, homem que se dedicou de alma e coração ao
policiário.
O autor de uma peça de teatro sobre esta ladra lisboeta (João Osório de
Castro, 1926-2007) contactou, na altura da publicação, o director do jornal
(José Leite) para obter mais informações sobre a figura, e este pediu-me esses
elementos, o que eu fiz, enviando-lhe a bibliografia que consultei. Sei que
esse trabalho do eminente dramaturgo e fundador da Casa da Comédia, se encontra
publicado pela Elo.
Relativamente à publicação no blogue, apenas uma pequena parte será
publicada e essa consistirá na transposição digitalizada, na íntegra, de mais
dois ou três "casos". A Giraldinha será um deles.
Ao fim e ao cabo, ao todo, são exactamente 646 pranchas (aproveito para
rectificar o número das sete centenas, que arredondei, por cálculo), entre
casos muito e pouco conhecidos. A lista completa das publicações trarei, em
breve, a este blogue,, indicando os títulos e o número de pranchas de cada um.
Um abraço
Santos Costa