Este projecto de capa é, muito naturalmente, inédito e assim continuará a ser em termos de papel impresso. Respeita a uma adaptação de uma das mais conseguidas e maravilhosas narrativas extraída de "O Malhadinhas", de Aquilino Ribeiro.
Já referi este mesmo assunto, algures para trás, neste blog. Não escondo que sou, desde muito novo, um leitor do Mestre e que, até determinada altura, o seu estilo de escrita me influenciou, tanto mais que a vivência regional é comum.
Esta passagem da novela aquiliniana, foi publicada em "O Mundo de Aventuras", essa revista magistralmente dirigida pelo Amigo Jorge Magalhães. É natural que o meu incipiente traço não merecesse essa aceitação, não fosse o caso de o Jorge abrir oportunidades aos jovens autores portugueses, proporcionando uma nova vaga de desenhadores, ilustradores e argumentistas.
Para além desse pormenor, a minha pequena adaptação mereceu do Jorge a honra de capa (houve mais dois trabalhos meus a quem dedicou igual cortesia e honra), tanto mais importante e significativa quanto se sabe que entregou a tarefa a um Genial ilustrador, que é o Augusto Trigo.
Quem me conhece sabe que não tenho propensão ao saudosismo, mas neste ponto tenho de reconhecer que me faz falta - que nos fazem falta - uma revista como o Mundo de Aventuras, um coordenador como o Jorge Magalhães e ilustradores com a categoria do Augusto Trigo.
Meu caríssimo Amigo Santos Costa,
ResponderEliminarTenho andado ausente da grata tarefa de consultar os blogues da minha especial predilecção, por motivos de saúde e outras preocupações, que se têm reflectido também no andamento dos meus blogues (embora continue a mantê-los), mas procuro agora recuperar um pouco esse contacto, ligando-me outra vez à blogosfera, com a mesma curiosidade e o mesmo prazer que sentia antes.
Por isso, não posso deixar de lhe agradecer mais esta amabilíssima referência ao "Mundo de Aventuras" (uma revista que, de facto, faz muita falta) e ao meu papel como seu coordenador, durante 13 anos. São tempos saudosos e gratos ainda para a minha memória, onde retenho muitos nomes de amigos já desaparecidos ou que seguiram outros caminhos, desaparecendo também da minha vista.
Quanto aos seus trabalhos dessa época, digo e repito que tinham mérito mais do que suficiente para serem publicados e que, por exemplo, adaptações de obras do Mestre Aquilino Ribeiro, como aquelas que realizou, prestigiariam qualquer revista.
Confesso-lhe que, a par da nostalgia desses tempos, em que era mais jovem e dinâmico e talvez mais sonhador, tenho também saudades das nossas conversas, nas tertúlias lisboetas de BD que frequentámos; e que, ao folhear o "Mundo de Aventuras", como muitas vezes faço, me detenho, com especial interesse, nalgumas das páginas ilustradas por si, recordando o seu percurso "meteórico" como colaborador da revista, até atingir o apogeu (para usar uma metáfora) com um número (infelizmente um dos últimos) totalmente preenchido por uma história sua (ainda hoje uma das minhas preferidas): "A Formosa Judia" (eu próprio lhe propus este título, lembra-se?), baseada num romance de Emilio Salgari... que mais tarde foi tema também da sua novela gráfica "Os Piratas do Deserto", publicada pela ASA.
Gratas, gratíssimas recordações, que um dia destes talvez me decida a partilhar num dos meus blogues, num "post" (ou vários) dedicado a Salgari, outro nome que retenho há muito tempo, praticamente desde a infância, na minha memória. E é claro que ao evocar Salgari, terei também de citar o único desenhador português que lhe prestou homenagem, adaptando obras suas, com o talento e o rigor que nascem da devoção e do conhecimento: Santos Costa.
Um grande abraço de um velho Amigo que muito o estima e admira,
Jorge Magalhães
Caríssimo Jorge Magalhães
ResponderEliminarAgradeço-lhe também as suas palavras e os elogios com que decidiu honrar a minha - repito - modesta obra.
Pelo que li, verifico que não sou só eu a rever, com alguma nostalgia e prazer , os números que tenho encadernados de "O Mundo de Aventuras". São momentos de leitura que me envolvem de tal forma que não dou pelo tempo que passa e me circunda. E, paradoxo inexplicável, o facto de já ter lido as histórias por mais de duas ou três vezes, encontro sempre novos pormenores, permaneço no enredo como fazendo parte dele, com a vantagem de nunca ser assaltado pelo tédio.
Para mim - e será para todos, e não só para os "viciados" - a banda desenhada possui o fascínio da repetição da leitura, o que é raro em obras de texto apenas; para além disso, o recurso ao desenho e ao escasso texto que o envolve, cria no leitor uma aura de permanência, como se ali nos encontrássemos atrás de cada pedra, tiritando de frio num glaciar, aos solavancos num navio em alto mar ou na selva africana. Curiosamente, o preto e branco, ao contrário do que acontece com a cor, cria uma atmosfera mais interessante e autêntica, pois o autor não se escuda nas pinceladas de muitas cores - tem de as inventar com uma só.
Não sei por que razão, Salgari (que fez as delícias das gerações portugueses em três quartos do século 20) é hoje quase ou de todo repudiado. Parece-me que persiste a mentalidade de rejeição apenas porque ele se limitou a retratar o "sistema" do século XIX, mormente na relação do homem com os animais e com a supremacia do homem branco com o de cor.
Não me parece que ele tenha tomado decisões por qualquer dos lados nos seus livros, limitando-se a retratar e a punir a selvajaria e a barbaridade, vincando bem o que era bem e o que era mal, o que era o colono e o que era colonizado.
Menos cuidadosos nesses pormenores foi Júlio Verne, arredado desses rótulos.
Presumo que no próprio país, a Itália, o ostracismo é equivalente ao nosso, em relação a Salgari.
Politicamente correcto é seguir as "marias que vão com as outras" nessa classificação redutora do escritor; porém, no meu caso, não pega nem vou por aí, porque continuo a ser politicamente
insurrecto.
Um grande abraço de gratidão e amizade
Santos Costa