sexta-feira, 13 de maio de 2016

O MORTO QUE MATOU O VIVO


Trata-se de um dos contos que levei ao 3º volume de "Contos de Amor e Drama". É baseado numa história real, passada em finais do séc. XIX.
Exponho parte da primeira página deste conto.

Constava que a quadrilha dos Chuços, servos de Deus, levados do Diabo, que rogavam o céu e prometiam a alma ao inferno, tinham a sua sede de ladrões, meliantes e companhia, para as bandas da Torre do Terrenho.
Foram, de facto, uma família que visava os bens do alheio, embora temente a Deus, de quem esperavam mercê pelos seus erros. O pai, José, foi o mais astuto salteador da região, capaz de penetrar como um trasgo nas casas ricas, mordido pelos desejos de aviar o suficiente para não se tornar rico nem deixar os donos pobres. O filho mais velho, também ele José, acrescentava ao vício do pai e ânimo do progenitor o gosto que tinha por mulheres, de mais quando fossem elas, como os haveres, do alheio.
É deste que vamos contar a história que corre na memória de alguns antigos.
O José Chuço, filho, tinha por amante uma moça do Terrenho, a quem correspondia com carinho redobrado e dádivas subtraídas a condizer.
Suspirava a moçoila pelo calor do macho e pelo tilintar das lembranças que doutrem foram, noite alta, à hora própria em que os mais da aldeia ferravam o galho.
Aconteceu, em indeterminada noite, o infortúnio para o ladrão e amante. A paciência divina estava farta de se condoer com a angústia dos espoliados e porventura escaldada com a desfaçatez do larápio. Fechou os olhos à atitude de um delator que, nessa noite, correu à vila de Trancoso para acusar às milícias a lura da presa.
Ora, as milícias fardadas pelavam-se para ferrar um balázio na pele daquele que lhes não trazia o descanso e lhes fazia suar o corpinho para lhe darem caça e justificarem a soldada. Cercaram a casa, deram voz de prisão e esperaram que o Chuço, perante o ardil, viesse em ceroulas e pés descalços a jorrar-se-lhes às botas. 

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