Trata-se de um dos contos que levei ao 3º volume de "Contos de Amor e Drama". É baseado numa história real, passada em finais do séc. XIX.
Exponho parte da primeira página deste conto.
Constava que a quadrilha dos Chuços, servos de Deus,
levados do Diabo, que rogavam o céu e prometiam a alma ao inferno, tinham a sua
sede de ladrões, meliantes e companhia, para as bandas da Torre do Terrenho.
Foram, de facto, uma família que visava os bens do
alheio, embora temente a Deus, de quem esperavam mercê pelos seus erros. O pai,
José, foi o mais astuto salteador da região, capaz de penetrar como um trasgo
nas casas ricas, mordido pelos desejos de aviar o suficiente para não se tornar
rico nem deixar os donos pobres. O filho mais velho, também ele José,
acrescentava ao vício do pai e ânimo do progenitor o gosto que tinha por mulheres,
de mais quando fossem elas, como os haveres, do alheio.
É deste que vamos contar a história que corre na
memória de alguns antigos.
O José Chuço, filho, tinha por amante uma moça do
Terrenho, a quem correspondia com carinho redobrado e dádivas subtraídas a
condizer.
Suspirava a moçoila pelo calor do macho e pelo
tilintar das lembranças que doutrem foram, noite alta, à hora própria em que os
mais da aldeia ferravam o galho.
Aconteceu, em indeterminada noite, o infortúnio para o
ladrão e amante. A paciência divina estava farta de se condoer com a angústia
dos espoliados e porventura escaldada com a desfaçatez do larápio. Fechou os
olhos à atitude de um delator que, nessa noite, correu à vila de Trancoso para
acusar às milícias a lura da presa.
Ora, as milícias fardadas pelavam-se para ferrar um
balázio na pele daquele que lhes não trazia o descanso e lhes fazia suar o
corpinho para lhe darem caça e justificarem a soldada. Cercaram a casa, deram
voz de prisão e esperaram que o Chuço, perante o ardil, viesse em ceroulas e
pés descalços a jorrar-se-lhes às botas.
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