DANÇAS. Danças com bruxas parece ser um sugestivo título para
um filme candidato a mais de sete nomeações para os Óscares.
Com esta ideia peregrina, resta-me acrescentar que as
bruxas costumam dançar com o diabo, nuas tanto da cintura para baixo como para
cima. Também tocam pandeireta e, possivelmente, poderão aparecer em festival da
eurovisão em forma de girls band.
“Depois da pança, vem a dança”, parece ser o axioma
das assembleias. O banzé dos tamborins, rabecas e pandeiretas, segue-se a um
repasto bem servido por qualquer imitação de cozinha com três estrelas
Michelin, cujo menu acho por bem não mencionar. Desnecessário será dizer que
não poderão encontrar esta ementa nos cardápios do famoso Barnaby’s de Nova
Iorque. Presumo eu.
DEDOS. São os instrumentos mais usados e utilizados pela
malta do gamanço nos eléctricos 15 e 28, contrariando a superstição que diz vir
a ser músico a criança que tiver dedos longos e ágeis. Também diz a crença que
será desonesta a criança que tiver o dedo indicador tão comprido como o médio,
dando ainda a hipótese que deverá também ser político, de preferência deputado.
Se a crença não do diz, haverá por aí escrito algures que é hábito dos
políticos cruzarem o indicador e o médio atrás das costas por cada vez que
façam uma promessa. Executam esse gesto, depois que se encontram fadados para
este regime de promete e não faz, quando é pela positiva, e faz quando não promete, quando é pela negativa, vendo assim cumprido, mesmo com os requisitos mínimos,
os sonhos de menino.
Um senhor chamado M. Krout contou 5.000 gestos diferentes
para as mãos, cada um correspondente a uma expressão verbal utilizando os
dedos. Há gestos que não revestem propriamente formas de comunicação, como é o
caso da pouco higiénica passagem dos dedos pelas cavernas do nariz. Quem limpar
“macacos” na Líbia e na Síria significa um convite sexual e se colocar o
polegar e o indicador nas duas aberturas nasais está a insultar os nativos com
algo semelhante a “vá para o diabo que o carregue”.
Nem é dos livros das bruxas que se extrai mais esta. Não
se devem fazer estalidos com os dedos para chamar os empregados de balcão nos
Estados Unidos ou no Japão, porque é ofensivo e tido como desprezo. Nem se forme o V de vitória com os dedos na
Austrália, pois significa que os está a mandar “abaixo de Braga”. E também não
se apresente a um italiano com as mãos juntas, como se estivesse em prece, e
com os polegares erguidos. É como se estivesse a chamar burro ao transalpino; nem exiba a um grego a palma da mão aberta com os dedos esticados, porque é
muito ofensivo (gesto que se chama “moutza”), pois quem o fizer vai ver-se grego
para justificar a “sacanice”.
DEGRAUS. O que têm a ver as escadas com as superstições, para
além daquela que não recomenda passar por baixo de uma?
Acredita-se que se deve subir um degrau, um patamar ou
para uma cadeira, na passagem de ano, para que a vida ganhe novo impulso
positivo; mas deve-se fazê-lo com o pé direito primeiro. Não se promete que
suba na carreira, principalmente se estiverem “congeladas” as progressões na
dita.
DENTES. Embora possuam a dentadura completa, original e não
placa, nos dois arcos maxilares, não se livram as bruxas de aparecerem na
iconografia da classe sem uma série de incisivos, caninos e pré-molares quando
executam aqueles sorrisos desdenhosos. Há até receitas na internet (não há
receita que lá não esteja, seja para o que for) que ensinam a escurecer os
dentes para o dia das bruxas. Para quem não queira andar com as pinturas na
dentição, existem à venda uns moldes que incluem aparelho ortodôntico, gengivas
com parodontose e falta de dentes, com eles cariados ou ainda com uma estrutura
irregular a imitar Mário Centeno, o ministro das Finanças.
Nós sabemos que, na maioria das pessoas, os dentes que
substuíram os de leite celebraram um contrato de curta duração sem cláusula de
rescisão. Ainda nesse contrato está firmado que nenhum político deverá utilizá-los
para morder o adversário, se bem que tenha vontade de lhe ferrar uma dentada
nas nádegas, deixando essa tarefa ingrata à língua que, em contrato próprio e
em regime de voluntariado, tanto serve para lamber botas como para vituperar todo
o bicho careto que não faça parte da sua bancada.
Os dentes deviam ser numerados, mas não numa forma
sequencial, identificando uma espécie de NIB ou IBAN de cada indivíduo. Isto
facilitaria o levantamento de numerário nas caixas multibanco, a abertura das
portas de casa e do carro, abrir o PIN do telemóvel ou como password do computador e o acesso ao portal das finanças para registo do
e-fatura. Bastaria o titular sorrir como o fazem as apresentadoras nos salões
de automóveis quando se aproximam os mirones para verem a viatura e a modelo.
Não recomendado este sistema, como é evidente, a quem
possua placa completa ou implantes dentários com ou sem parafusos de titânio. Perder uma dentadura para esta lhe ser roubada, seria pior do que possuir o famigerado cartão multbanco e o seu código de acesso.
De tal forma os dentes estão ligados às bruxas, como a
língua portuguesa actual ao novo acordo ortográfico, que se dá o nome de bruxismo
ao tique daqueles e daquelas que passam grande parte do dia a ranger os dentes.
DIABO. Diz o povo que o diabo quando anda entre as bruxas dá
pelo nome de “Zângão”. Também é chamado “bezerro dos cornos pretos” ou
“tinhoso”. Junta-se com elas nas encruzilhadas onde não esteja brigada de
trânsito em operação stop, todas as terças e sextas-feiras. Não consta que
qualquer deles tenha participado nas meritórias campanhas do Banco Alimentar
contra a Fome.
O cliché do “cornudo” é a representação como bode de
dois ou três cornos, retorcidos como os dos carneiros, patas com duplo casco,
cauda e muito pelo no corpo. Presidem assim às cerimónias do “sabat” , obrigam
as noviças a beijá-lo nas nádegas e unem-se carnalmente com as companheiras em
bacanais extravagantes, seguros de que não há delatoras nem algum “paparazzo”
intrometido. Maior regabofe não vai pelos lupanares mais desbragados, nem mesmo
pelas noites mais acaloradas do Lupanar de Pompeia.
Quando faz chuva e sol ao mesmo tempo, diz o povo que
o diabo está a dançar e a cantar com as bruxas. Há até quem aposte que Gene
Kelly e Stanley Donen se basearam neste costume para levarem à tela o Singin’ in the Rain (Serenata à Chuva).
DINHEIRO. Se um grilo dentro de casa fosse sinal de dinheiro,
como reza a superstição, certamente as lojas dos chineses já teriam expostas
centenas de gaiolas com os bichos lá dentro. Digo isto porque, para além de venderem
tudo menos a Torre Eiffell e a dívida externa portuguesa, os chineses aqui
estabelecidos, na sua terra natal também têm uma superstição a confirmar que o
pouso de um grilo numa pessoa (no caso, um chinês na China) significa muita
sorte. Suponho que a ser acertada a teoria popular, naquele edifício do
Terreiro do Paço de cor amarela, onde se assenta o antigo ministério da
Fazenda, teria forte e sonante cantoria toda a noite – cri,cri,cri,cri….
Mais eficaz me parece esta: para que se não acabe o
dinheiro em casa, guardam-se cachos de uvas pendurados.
Para quem deseja contactar uma bruxa à moda antiga no
intuito de conseguir o vil metal, é melhor tirar daí o sentido e procurar por
outro lado: é suposto e publicitado resultar a consulta a “astrólogos” do tipo
mestre Fati’s, professores Karamba’s, Saco’s e Mamadou’s e outros tarólogos que
prometem confidência mais absoluta que o tão apregoado sigilo bancário ou o
propalado segredo de justiça.
Já para afugentar o bruxedo, basta trazer uma moeda no
bolso, desde que esta tenha uma cruz desenhada, o que não resulta com as moedas
do euro, uma vez que o BCE (Banco Central Europeu) não preveniu esta necessidade.
É bom lembrar que as bruxas não recorrem ao rendimento
social de inserção. Ou recorrem?
DONINHAS. Estes simpáticos bichanos trazem consigo a má reputação
de outrora personificarem as bruxas e executarem à risca as suas missões, a
exemplo do que acontece com as finanças portuguesas e a troika. Daí também
correr o alarde de que ninguém consegue apanhar uma doninha adormecida.
Avizinha-se mau agouro de alguém se cruzar com uma,
principalmente se ela fugir para a esquerda (o que se tornou moda em vários
tipos de fuga) e se for de cor branca.
DÚVIDAS. Segundo a crença, que se julga provir do judaísmo,
deve-se contar os botões do casaco que se veste na oportunidade em que surge
uma dúvida ou uma decisão importante. Se a contagem somar um número par, a
decisão que se tomou está correcta; se for ímpar, deve tomar outra.
No entanto, as bruxas não usam casacos com botões, mas
nem disso precisam pois, tal como um certo político português, nunca se enganam
e raramente têm dúvidas.
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