terça-feira, 20 de novembro de 2012

DE NOVO: O ATENTADO A SALAZAR

 

Ando na onda das experiências gráficas com trabalhos meus já editados no jornal "O Crime". Este, "O Atentado a Salazar", não só saiu publicado semanalmente no referido jornal, como também num álbum editado pela editora "Época de Ouro".
Acontece que a forma como publiquei o trabalho, como se fosse o relato de um livro de História, tirou-lhe o envolvimento humano de uma personagem interveniente, naturalmente ficcionada, que agora pretendo remediar, necessariamente ampliando a obra.
Como sou volúvel nas ideias e nas decisões, dá-me para fazer experiências na matéria, designadamente na cor ou no p/b ou ainda, como no caso acima, recorrendo a pantones cinza, em ambiente da época (anos 30). Para além disso, resolvi dar-lhe corpo, reduzindo as vinhetas por página a duas ou três (máximo 4), de forma a ampliar a imagem e torná-la mais arejada para os balões. Não contente com a alteração, modifiquei o corpo da letra para um "mistral" negrito.
O Evaristo, o Nuno Amado e, mais recentemente, o André Azevedo opinaram sobre as suas preferências de cor e p/b em postagens anteriores; e, como todas elas são opiniões livres, sinceras e desassombradas, vou guardando-as para a decisão final.
Não desgosto deste formato e desta combinação do preto com os tons de cinza. A ver vamos...


7 comentários:

  1. Fernando,
    Em primeiro lugar, permite-me fazer aqui uma nota sobre conflito de interesses: a côr de que menos gosto, é o preto, a escuridão. Por isso a minha preferência vai para as côres vivas, as côres da natureza. Para mim uma obra plástica deve ser policromada, ainda que com apenas dois ou tres tons. Eu sei que a côr preta está muito na moda, sobretudo no meio juvenil. Seria interessante analizar um estudo sobre este tema. Eu penso que a preferência pelo preto tem a ver com a visão do "futuro negro" percepcionado pelos jovens. A côr pode confundir e desorientar. Por issso os criativos, na sua maior parte os designers da moda, optaram pelas côres escuras, cinzentas. Assim resolviam a maçada de ter que "combinar" as côres. E neste meio, o "preto" é predominante. Dizem que o preto é uma côr forte, etc. Para mim é uma côr sem calor, que pode levar à depressão.
    Enfim. Eu prefiro a policromia da natureza.
    Do ponto de vista estético, uma obra de arte pode ser mais apelativa numa só côr, v.g. o preto. Para mim carvão, é preto. Como preto é o ritual funerário. Pronto. Eu gostava mais de ver aquela camioneta (Austin ou Ford?) a subressair no negro alcatrão da estrada. Assim como gostava de ver a côr do cesto (mais a sua fruta), que a mulher leva à cabeça. A realidade é cromática. Num mundo de côr, a BD de hoje, para se impôr, não deve esquecer a côr. A menos que se trate de uma peça de arte destinada a ser comentada e avaliada por um restrito número de críticos de arte expressionista. Creio que, em pintura, já tudo foi experimentado. Em BD não tenho tanto a certeza.
    Um abraço.

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    1. Mais uma vez tenho de agradecer as tuas opiniões, tanto mais que as baseias em concreto, para além do sentido estético.
      O preto é, de facto, a cor da noite, o cinzento o da penumbra e seria de todo apropriado para a época aqui retratada.
      No entanto, há uma evidente apetência por BD a cores, uma vez que a cor identifica os objectos e fica-se a saber que aquele cesto tinha cor entre o castanho e o avermelhado, a mulher possui um tom entre o rosa e o laranja, por ser uma cor de saúde e de quem vive ao ar livre, o cobrador em tom mais macilento (creme) por ser um fumador. A estrada, porém, manteria o cinzento e o castanho escuro da lama, pois alcatrâo pelas aldeias era como o petróleo no Rossio.
      Em computador há esta vantagem: troca-se de cor como quem muda de camisa, talvez como quem muda de partido, pois as coisas estão para mudança. Leva-se ao photoshop como se fosse o casaco à tinturaria. Por isso, as opiniões contam.
      Mais uma vez um bem-hajas e um abraço
      Fernando

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    2. Caro Evaristo Ferreira,

      Como pessoa que veste maioritariamente de preto e que tem um gosto especial por BD a preto e branco devo afirmar que no preto, tal como era conseguido pelos antigos pintores, cabem todas as cores. Todas as cores que se encontram na natureza, inclusive as tonalidades negras do referido carvão.

      Para mim o preto é confortável e o branco é que é cor depressiva, ou melhor, é ausência de cor, é ausência de tudo.

      Então o que dizer da BD a preto e branco? Deveria sempre ser colorida tal com andam a fazer com os filmes antigos?

      Prefiro, sem qualquer dúvida e hesitação, ler, por exemplo, Corto Maltese a preto e branco do que a cores.

      Dito isto; gosto de cores, de todas. Gosto de bd a cores quando é assim pensada, tal como o Cinema.

      Contudo, percebo as suas afirmações, mas não culpe o preto pelo desânimo juvenil. É antes o contrário, o preto dá voz ao desânimo de viver numa sociedade quase sem valores e sem futuro.

      A letra da música Man in Black do grande Johnny Cash resume na perfeição o que significa para mim, e de certeza para muita gente, vestir de preto.

      Abraço.

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  2. Pois, com preto para aqui e preto para acolá esqueci-me de comentar o principal: os seus desenhos, Santos Costa, agora com as nuances cinzentas.

    Idealmente, e neste caso especifico concordo com o Evaristo Ferreira, este seu trabalho merecia ser visto/lido a cores, com aquelas cores das fotografias antigas. Mas por questões económicas acredito que é uma possibilidade mais difícil de concretizar.

    (Um aparte: imagine-se os Piratas do Deserto publicado a cores, com aquelas cores marcadas pelo Sol das terras áridas)

    E assim ficando pelos pretos, brancos e cinzentos, penso que seria de explorar mais as várias tonalidade de cinzento, e mesmo, porque não, desenhar com esses cinzentos dando mais corpo aos cenários.

    São exercícios visuais que me agradam e que problematizam uma já antiga questão na edição de BD: a preto e branco ou a cores? Qual a mais adequada à obra em questão?

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    1. Caro André
      A cor é, de facto,a mais cara e, como não pode deixar de ser, a mais apetecida.
      A aplicação do p/b ou da cor depende da obra, do seu conteúdo, do jogo entre o claro e o escuro, onde a sombra é mesmo escura, de breu.; a cor exige uma outra dinâmica, pois há casos em que não resulta - como na saga do Corto Maltese - ou que não é tão bem aplicada.
      Depois, na cor, há ainda dois caminhos: ou se aplica da forma tradicional, com pincel e tintas ou se leva ao computador, também aqui com resultados diferentes.
      Peço desculpa por me ter apercebido tardiamente do seu comentário.
      Um óptimo 2013.

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  3. Pessoalmente gosto mais a cores. Numa prespectiva de mercado, nomeadamente publicação de uma obra BD em Portugal, creio que deve ficar pelo preto e branco. E estas vinhetas a cinzento estão espectaculares....

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    1. Caro pco69
      Agradeço-lhe a apreciação que fez a esta amostra de trabalho com cinzentos.
      É facto que em Portugal - e para o mercado que temos - uma obra a cores quando não se vende é um prejuízo danado. O p/b sai mais barato, pois vai uma única vez à máquina e foge à selecção das outras três cores primárias.
      Também lhe peço desculpa por ter tardiamente reparado no seu comentário.
      Um feliz 2013.

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