Ao constatar o (des)interesse dos "media" pela efeméride do 150º aniversário do nascimento do escritor Emilio Salgari, prometi trazer hoje, dia 21 de Agosto de 2012, essa memória, com o ensejo de relatar, através da autoria do jornalista JOSÉ DOMINGOS, a apresentação do meu livro "Os Piratas do Deserto". É dele a peça que se segue, talvez uma das poucas dedicadas ao escritor e ao desenhador, pois não vi, até agora, referências a ambos (só me faltou ler o Diário da República ), com excepções nos semanários "O Interior", "Terras da Beira" e "A Guarda", para além de uma entrevista que dei ao diário "I".
O trabalho a seguir, bem como as fotografias, são do José Domingos, que me fez o favor de estar presente e a quem, mais uma vez, agradeço.
O mais recente livro de Banda Desenhada
do escritor, ilustrador e investigador trancosense Fernando Santos Costa “OS
PIRATAS DO DESERTO” baseado na obra de Emílio Salgari foi lançado sexta-feira
(16 de Agosto) na livraria “LeYa na Buchholz, de Lisboa pela Editora ASA.
A sessão contou com a presença do
Presidente do Município de Trancoso, Júlio Sarmento, jornalistas e um conjunto
de escritores/ autores de BD.
A obra foi apresentada por Jorge
Magalhães, autor de BD e antigo editor da
Agência Portuguesa de Revistas (APR) onde foi coordenador da célebre revista de BD Mundo de Aventuras
(II série) entre outros títulos da editora (Mundo de Aventuras Especial e Selecções), traduzindo "BD’s" e escrevendo artigos e
contos.
Magalhães realçou que Santos Costa é o
primeiro escritor e autor português de Banda Desenhada a elaborar uma obra Emílio
Salgari ( Verona, 21 de Agosto de 1862-Turim, 25 de Abril de 1911). Trata-se de
uma obra em BD (Banda Desenhada), género comic book e como graphic novel, sendo
uma adaptação livre do livro com o mesmo título de Emilio Salgari.
Santos Costa recordou que o lançamento
de”Os Piratas do Deserto” ocorre precisamente no mês em que se comemora o 150º
aniversário do nascimento de Emílio Salgari. Em improviso e sempre em diálogo
com assistência que activamente participou na sessão, o escritor de Trancoso
traçou uma retrospectiva da sua vida enquanto ilustrador/desenhador e autor de
BD e a sua participação no Mundo de Aventuras, designadamente.
Não deixa de ser curioso que Santos
Costa tenha publicado alguns dos seus trabalhos com capa de prestigiados e
conhecidos autores de BD, sem que nunca se tivesse dirigido às redacções das
revistas, o que, contudo, não deixou de guindar os seus trabalhos a um patamar
elevado das editoras e do grande público, o que foi sublinhado por Jorge
Magalhães que elogiou o trabalho de Santos Costa e traçou uma retrospectiva da
sua participação em “Mundo de Aventuras”.
No Prólogo do livro de BD “Os Piratas do
Deserto”, Carlos Passoa afirma a propósito de Santos Costa:” O autor, Fernando
Jorge dos Santos Costa (n. 1951, Lisboa) de seu nome completo, é o único
português que passou para os quadradinhos romances de Salgari. Essas histórias
foram publicadas nos anos de 1980 na revista “Mundo de Aventuras”, então a
viver a última fase da sua existência – primeiro “Os Tuaregues” (18 de Junho de
1981), depois “O Último tigre” (28 de Janeiro de 1982) e finalmente “A Formosa Judia”
(15 de Dezembro de 1986, penúltimo número da revista)”.
E adianta “…A aventura, os combates
extraordinários, os ambientes fantásticos e as muitas peripécias no enredo
foram as razões que impeliram Santos Costa a adaptar Emílio Salgari. Autor de
uma extensa lista de contos e novelas, bandas desenhadas e ilustrações, nunca
escondeu, aliás, o fascínio que Salgari exerceu sobre si. “Não era um escritor
de alta-roda nem das elites, mas muito apreciado pela juventude daquele tempo e
por uma população pouco letrada. Não eram só os livros de Sandokan mas também
as histórias que se passavam em outras partes do globo, na selva ou no Ártico.
Tudo isto dava uma sensação extraordinária”.
A presentação de “Os Piratas do Deserto”
contou ainda com a presença de Maria José Magalhães da editora ASA.
E, como escreveu a propósito Carlos
Pessoa, “ os leitores de Salgari e também os que não o conhecem têm agora uma
oportunidade de voar ao sabor da aventura, nas asas da imaginação, do sonho e
das paisagens exóticas”.
Quem Foi Emílio Salgari?
Emílio Salgari nasceu na cidade italiana de Verona a 21 de
Agosto de 1862 e faleceu em Torino no dia
25 de Abril de 1911) foi um escritor italiano.
Desde
muito cedo se interessou pelas viagens marítimas e decidiu ser capitão.
Ingressou na Academia Naval de Veneza, alistou-se num
barco mercantil e percorreu a costa Adriática. Regressou a Itália onde começou
a ganhar sustento com as suas obras que começaram por serem publicadas e
jornais.
Emílio
Salgari era filho de uma família de modestos comerciantes, notabilizou-se
escrevendo, nos últimos 15 anos da sua vida, cerca de 200 novelas de aventuras
e de viagens por regiões como a Malásia, as Antilhas e as Bermudas - terras exóticas
para a maioria dos ocidentais - e ainda diversos volumes passados no Far-West.
Mais tarde, casou-se com Ida
Peruzzi, com quem teve quatro filhos. Mesmo com os êxitos dos seus livros os
problemas económicos não deixaram de os seguir.
Depois
da morte de sua esposa, Salgari se suicidou no Vale de San Martino.
Publicou:
Os Mistérios da Selva Negra ( escrito
em 1889), O Tigre da Malásia, Os Piratas da Malásia, O Rei do Mar, A Cimitarra
de Buda, O Rei da Montanha, Um Drama no Oceano Pacífico, O Corsário Negro, Os
Peles Vermelhas, O Leão de Damasco, As Maravilhas do Ano 2000, Os Dois Tigres, O filho do Corsário Vermelho, A conquista de
um império, A revanche de Sandokan, A reconquista de Mompracem, O falso Brâmane, A
queda de um império, A revanche de Yanez
e Os últimos flibusteiros, entre outros.Perante a diversidade das regiões onde
os seus romances decorrem, poder-se-ia supor que a sua obra seria o resultado
de imensas viagens que empreendera ao estrangeiro. Puro engano! Apesar da acção
das suas novelas decorrer em longínquos países, realizou apenas uma viagem no
mar Adriático, na costa oriental da Itália, quando frequentou, inutilmente, um curso
que lhe poderia ter dado a profissão de capitão da marinha. As suas grandes
fontes de inspiração foram os relatos exóticos de viajantes e exploradores do
seu tempo.Apaixonou-se perdidamente por uma jovem inglesa de família nobre que
lhe haveria de servir de modelo para criar as heroínas dos seus romances.
Acabou por se casar com uma camponesa, Ida Peruzzi, de quem teve quatro filhos.
Toda esta vasta produção textual não lhe
trouxe desafogo económico. Viveu os últimos anos da sua vida sem recursos,
tendo-se suicidado em Turim, no dia 25 de Abril de 1911.
Um dos principais heróis dos seus livros é
Sandokan, presente em diversos volumes:
Sandokan na Ilha de Bornéu
Sandokan Reconquista Mompacém
Sandokam, Soberano da Malásia
Outros personagens,
surgem, com idêntico vigor, em outros títulos, nomeadamente nos seguintes:
Os Pescadores de
Pérolas
O Corsário Negro
Os Últimos Corsários
O Capitão Tormenta
O Tesouro dos Incas
O Escravo de Madagáscar
A Heroína de Cuba
O Corsário Negro
Os Últimos Corsários
O Capitão Tormenta
O Tesouro dos Incas
O Escravo de Madagáscar
A Heroína de Cuba
Um dos livros mais interessantes é, sem dúvida, As Maravilhas do
Ano 2000. Escrito nove décadas antes, fez sonhar gerações de leitores que se
questionavam como seria esse mítico ano. Curiosamente, a maioria das antevisões
foi ultrapassada, nomeadamente a velocidade das viagens aéreas mas outras, como
a transmissão directa de notícias através da televisão, revelaram-se bastante
acertadas. Outra curiosidade deste livro consiste no facto da narrativa
terminar em Lisboa, local onde as suas personagens, vindas do passado, são hospitalizadas
por não aguentarem o ambiente eléctrico que as rodeava. Dever-se-á salientar
que, quando o livro foi escrito, a electricidade dava os seus primeiros passos,
havendo quem argumentasse que a sua utilização produzia efeitos funestos para a
saúde pública.
Este testemunho é importante por ser sincero, sóbrio, objectivo e lavrado com arte e profissionalismo. Assusta-me citar o nome de José Domingos, pois era este o nome de meu pai, mas alegra-me reconhecer que este teu ilustre amigo é um jornalista que faz o seu trabalho com probidade, com saber de leituras diversas, ou seja, tem abundância de cultura, que é o que hoje faz falta á muitos profissionais do jornalismo.
ResponderEliminarA ele e a ti, os meus parabens. Um abraço.
Agradeço pelo José Domingos.
ResponderEliminarIgualmente lhe reconheço essas qualidades, uma vez que desempenhou importante actividade jornalística em Lisboa e na redacção da Lusa, na Guarda. Foi ainda da Anop e Ani (salvo erro)e continua a desempenhar funções na área do jornalismo, graças à sua carteira profissional.
É um homem que tem uma estreita relação com Israel e fala fluentemente hebraico, para além do inglês, castelhano e francês.
Aqui há uns anos - ainda não nos conhecíamos - fez parte de um júri literário a um prémio a que eu concorri, tendo eu sido galardoado, conforme ainda se pode ver numa publicação então dedicada ao assunto: a vida e obra do escritor Nuno de Montemor, pois tratava-se de um ensaio.
O facto de assinar José Domingos também me impressiona, por fazer recordar a pessoa que citas, meu sogro, um Homem que em tudo o que fez procurou a perfeição, a dignidade e o empenho.
Um abraço e também o agradecimento pela tua disponibilidade para estares no lançamento do livro.
Caro Santos Costa,
ResponderEliminarEvoquei ontem, 21 de Agosto, os 150 anos do nascimento de Emílio Salgari no Jornal de Notícias, com referência à edição (e capa) de Os Piratas do Deserto.
Abraço!
Pedro
ResponderEliminarPara empregar a linguagem atinente à acção do livro, o JN (através do Pedro) pode considerar-se um oásis no deserto da indiferença dos media no que toca ao registo da efeméride. Para além disso, há a acrescentar - e a agradecer, da minha parte - a referência a "Os Piratas do Deserto", o que, mais uma vez, vem confirmar que ainda há quem promova e divulgue a BD da autores nacionais.
Um eterno Bem-Haja
Um abraço
Olá Santos Costa,
ResponderEliminarQuero dizer que adorei ter estado presente no lançamento de Os Piratas do Deserto que, apesar de tudo,me suscitou muita curiosidade por ver que era a adaptação de uma obra de Salgari que eu por acaso desconhecia. E, agora que já li o seu livro, devo dizer que está plenamente conseguido no sentido em que me transportou para um outro mundo onde a grande aventura é raínha e senhora. Conseguiu isso, usando um traço aparente e enganadoramente simples, despojado de coisas supérfluas, que nos conduz imediatamente aonde realmente importa. É verdade que não conheço o livro do Salgari em questão. Mas não importa. A forma como está escrito e desenhado, leva-nos imediatamente a virar a página, para saber como é que a acção flui nas vinhetas seguintes. Nesse sentiudo, considero que é uma boa homenagem e que, se o escritor fosse vivo, teria gostado certamente. O seu livro teve ainda o condão de me fazer recuar à infância quando foi exibida a série Sandokan, O Tigre da Malásia, do Sergio Sollima, se não estou em erro. Já o mesmo não posso dizer da segunda série que tinha também o Kabir Bedi como protagonista. Por outro lado, como já estive no deserto, considero que o Fernando captou muito bem as ambiências, numa obra que se lê de um fôlego e que recomendo vivamente. E tenho pena que não tenham estado mais pessoas no lançamento. Quem lá esteve sabe do que estou a falar; de uma sessão muito gratificante e interessante, não só pelos discursos dos presentes, como pelo revelar de algumas curiosidades que eu próprio desconhecia. Resta-me apenas desejar à sua obra o percurso de sucesso que ela merece. Um grande abraço.
João
EliminarEntre todos os elogios ou encómios que eu ou a obra possamos receber, o seu é aquele que é profundamente mais sentido. Por duas razões, principalmente: porque é sincero; porque provém de um autor que eu considero dos mais importantes do espectro da BD nacional actual, com uma obra vincadamente de referência e perfeita na sua concepção e eficácia.
Um abraço
Bom dia Santos.
ResponderEliminarE con questo ho finito tutto il portoghese che conosco!
Congratulazioni x il tuo libro, ennesima prova di quanto è amato Salgari fuori dall'Italia. Spero di poterlo leggere anche in Italia!
Grazie x essere passato sul mio piccolo blog.
Ate logo.
ciao.
paolo
Buon pomeriggio Paolo
EliminarApprezzo le tue parole e spero di leggere il tu libro "Sweet Salgari".
Emilio Salgari é muito conhecido em Portugal, porque ele também reconheceu os portugueses na sua obra. O companheiro de Sandokan, Yanez (Eanes) de Gomera, era português.
Para quem gosta de Banda Desenhada (fumetti), recomendo a leitura do teu blog:
http:// sweetsalgari.blogspot.com
Ciao
Santos Costa