BABOSA. É a planta que nos chega com o rótulo de aloé vera.
Dizem os entendidos no assunto que dá sorte, amor e protecção, afinal os três
ingredientes que toda a gente deseja, se olvidar o da pedra filosofal e o
acertar todos os números do euromilhões. Possui efeito sobre energias
negativas, principalmente inveja e mau olhado.
Uma outra característica menos metafísica é a de ser eficaz
contra acidentes domésticos, especialmente na cozinha, protegendo das
queimaduras, cortes ou tombos. Para além disso, segundo a química, fortalece o
couro cabeludo – não sei até se restitui o cabelo perdido, mas a caspa foge
dela como o diabo da Cruz - e em creme vende-se para prevenir rugas e combater as peles flácidas e secas.
Como dizem os entendidos que faz crescer o cabelo com
muita rapidez, é muito recomendada pelos barbeiros e cabeleireiros, que vêem na
planta um poderoso aliado.
Não confundir com o vocábulo de género contrário, o
baboso, de que os espanhóis têm um significado assim explicado: “ hombre que resulta molesto e impertinente
cuando intenta agradar a una mujer”.
BARULHO. Fazer chinfrineira com tachos e panelas, tem servido para
espantar os malefícios do ano que finda e impedindo que entrem no novo. À falta
destes apetrechos (principalmente dos tachos, que estão todos tomados), serve
uma discoteca de quizomba ou uma sessão de bateria e guitarra-baixo de uma
banda liceal.
BELEZA. Salvo raras excepções, nunca vi a reprodução de uma
bruxa com base no modelo de rosto de uma Amanda Seyfried, Nicole Kidman, Angelina
Jolie, Avril Lavigne ou Beyoncé, para só citar algumas das que são
consideradas, na altura em que faço esta enciclopédia, das vinte mais belas do
mundo. Até o circunspecto Goya deu em pintar umas megeras narigudas, pelos no
queixo e algumas verrugas pouco cuidadas (a simetria destas, agora em moda,
paga-se a peso de ouro nos esteticistas).
Pintar o belo é difícil, mas o feio e deformado está
ao alcance de qualquer um. Como exemplo, é a capa que fiz para este trabalho,
elaborada em menos de uma hora.
O certo é que todos nós, pelo menos uma vez na vida,
teremos dito de alguém esta depreciação de mau gosto: “parece uma bruxa” ou “é
feia como uma Bruxa”.
BENZEDEIRA. Torna-se o assunto de conversas de serões e soalheiro
– pelo menos, no tempo em que não havia novelas televisivas a todas as horas do
dia – saber quem é quem no mundo do bruxedo. As benzedeiras toda a gente as
conhece, assim como algumas bruxas que têm blogs,
sites, twitter, linkedin e facebook.
As benzedeiras encarregam-se dos tratamentos do
mau-olhado que atacam os garotos, talham os “ares”, endireitam espinhelas
caídas, cortam sarampos e zagres, varrem malefícios e invejas. Estas mulheres,
que também são chamadas “corpo aberto” e “santinhas”, têm como utensílios
rudimentares e pataqueiros, facas e tesouras (para talharem os ditos “ares”), águas
bentas, ramos de alecrim e azeite puro de oliva (o que vem sendo raro como
ingrediente porque a pureza é escassa), beladona, meimendro e mandrágora.
Infelizmente, para comporem os magros réditos da
profissão, não se incumbem do preenchimento de declarações de IRS (“benzidas”
por outras artes), o que lhes garantiria clientela extra.
Enfim, as benzedeiras não passam de mulheres simples.
BOLSA. Quando o negócio era rentável, havia sempre uma bolsa
onde se guardavam os cobres. Hoje já não é bem assim. Segundo os cânones do dinheiro
e da finança, a bolsa passou a ser de valores (ou seja, quanto menos valores
morais, mais valem), constituindo um mercado que gere acções e outros valores
mobiliários.
Visto isto, não faltam às bruxas acções (a maior
parte, más, mas também grande parte, boas), pelo que, reunidas em sociedade anónima
desde os tempos da Inquisição, constituíram uma bolsa, a BVB (Bolsa de Valores
Bruxúlicos) que, por decoro, não emparceira com o NASDAQ, o CAC, o MICEX, o
NYSE ou o PSI20.
Perguntarão muito justamente por que razão não consta a “irmandade” financeira nas 30 maiores cotações do índice Dow Jones Industrial Average ou das famigeradas avaliações do Standard & Poor’s. Há uma razão muito simples: não sendo a actividade devidamente reconhecida pela fiscalidade internacional – constituindo os seus lucros uma espécie de fruto de qualquer paraíso fiscal – os editores do jornal financeiro norte-americano The Wall Street Journal, passam pelas acções da BVB e particularmente sobre este segmento de mercado, como cães por vinha vindimada.
Perguntarão muito justamente por que razão não consta a “irmandade” financeira nas 30 maiores cotações do índice Dow Jones Industrial Average ou das famigeradas avaliações do Standard & Poor’s. Há uma razão muito simples: não sendo a actividade devidamente reconhecida pela fiscalidade internacional – constituindo os seus lucros uma espécie de fruto de qualquer paraíso fiscal – os editores do jornal financeiro norte-americano The Wall Street Journal, passam pelas acções da BVB e particularmente sobre este segmento de mercado, como cães por vinha vindimada.
BOLSOS. Não se deve fazer a passagem de ano com bolsos
vazios, mesmo que tenha sido esbulhado pelos mesmos sugadores ao longo do ano e
independentemente dos cortes no subsídio de Natal. Lembrem-se que até a
mendicidade, neste País, paga imposto e que o mínimo tilintar nos bolsos
desperta a curiosidade da Autoridade Tributária e Aduaneira.
BURROS. Para além das vassouras, as bruxas usam os burros
como meio de transporte, só que preferem montar ao contrário, com as costas
viradas para a cabeça do animal. Deverão ter a mesma sensação que se desfruta
quando se viaja de comboio na última composição e se vê a paisagem a
afastar-se.
Quando alguém passa descalço por um sítio onde um
burro se tenha espojado, deve cuspir para que as bruxas não o incomodem.
Caro Sr. Santos Costa,
ResponderEliminarO meu nome é Artur Oliveira e sou um dos colaboradores do projecto 'As Rapinas Nocturnas na Cultura Popular Portuguesa'.
http://rapinasnocturnas.blogspot.pt/2015/08/colabore-neste-projecto-as-rapinas.html
Desta forma, o meu contacto prende-se com o seguinte: foi-me transmitida a informação de que "o topónimo Valdujo tem origem na localização do povoado, num vale, e a «ujo», espécie de rapina nocturna também conhecido por bufo ou corujão".
Ao realizar uma breve pesquisa na internet, tive oportunidade de visitar o seu blogue (Valdujo, Trancoso), onde não me foi possível confirmar esta informação, mas onde encontrei uma mensagem, relativa ao lançamento de um livro sobre Valdujo, acompanhada por uma foto de um bufo-real. Gostaria então de perguntar-lhe se tem conhecimento que a informação que me deram, sobre a origem do nome, está correcta. E, nesse caso, se me pode indicar, por favor, a fonte consultada, com a finalidade de nós a podermos consultar e, posteriormente, citar.
Deixo-lhe o nosso email, caso prefira responder por esse meio.
Os meus melhores cumprimentos.
Artur Oliveira
rapinasnocturnas@gmail.com
Caro Sr. Artur Oliveira
EliminarO topónimo Valdujo é, de entre muitos que têm na sua aglutinação espécies ornitológicas, aquele que mais se enquadra e corresponde ao lugar. Trata-se efectivamente de um povoado, repartido por três povoações (daí o topónimo genérico), que se situa num vale e que, até há alguns anos atrás, era um refúgio dos bufos reais ou ujos.
Num documento de 1219 encontra-se grafado Valle Hujio, naturalmente porque já era território desta ave rapace (bubo bubo).
Posso garantir-lhe que muitas noites a ouvi na sua melopeia monótina e cronometrada quando ali passava alguns dias.
A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira também refere - salvo erro- esta origem toponímica.
Cumprimentos
Santos Costa
Caro Sr. Santos Costa,
ResponderEliminarMuito obrigado pela pronta resposta. Aproveitamos para lhe perguntar se podemos citar este seu testemunho da seguinte forma:
"O topónimo Valdujo é, de entre muitos que têm na sua aglutinação espécies ornitológicas, aquele que mais se enquadra e corresponde ao lugar. Trata-se efectivamente de um povoado, repartido por três povoações (daí o topónimo genérico), que se situa num vale e que, até há alguns anos atrás, era um refúgio dos bufos-reais ou ujos.
Num documento de 1219 encontra-se grafado Valle Hujio, naturalmente porque já era território desta ave rapace (Bubo bubo).
Posso garantir-lhe que muitas noites a ouvi na sua melopeia monótina e cronometrada quando ali passava alguns dias."
Teremos muito gosto em enviar-lhe esta nossa recolha, assim que esteja concluída. Agradecemos que nos envie um contacto (para: rapinasnocturnas@gmail.com) para que o possamos fazer.
Mais uma vez, muito obrigado pela atenção tida.
Cumprimentos,
Artur Oliveira
Caro Artur Oliveira
ResponderEliminarÉ claro que pode citar o que entender.
Realmente, é na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, volume 33, página 761, 1ª coluna que se argumenta sobre o topónimo, confirmando o termo ujo e a sua ligação à ave, esta que é, entre todas, a mais linda.
De qualquer forma, irei contactá-lo por e-mail
Abraço
Santos Costa