domingo, 6 de março de 2011

O HOMEM-MACACO DO AVELOSO




Num País onde se fazem tantas macacadas, não podia faltar a fama e a escama do Homem-Macaco. Albaninho do Mal ou Homem-Macaco do Aveloso, subia por paredes, mostrava possuir uma força descomunal, bebia em grandes quantidades qualquer líquido que encontrasse, trepava a torres, metia medo ao medo. No fundo, no fundo, era uma infeliz criatura a quem acometiam uns estranhos e nunca esclarecidos ataques.
Nascido na aldeia do Aveloso, concelho da Meda, Albano de Jesus Beirão até aos sete anos de idade, foi uma criança como as outras da sua aldeia. O primeiro ataque ia surgir nesta idade. Apascentava então uma cabra, no campo, no mês de Janeiro, altura em que os pais colhiam a azeitona. Acendeu uma fogueira com umas silvas e sentou-se ao redor do lume, de pernas cruzadas. Contou ter visto um pássaro preto voar à sua volta durante algum tempo. De súbito, levantou-se e largou em corrida desenfreada e sem rumo. Era o primeiro de muitos êxtases que lhe transformariam a vida durante 43 anos.
Como se comportava ele na altura dos ataques?
“ Parecia o diabo em figura de gente. Não conhecia ninguém, galopava e escoicinhava, dava uivos… Mas não fazia mal a ninguém, principalmente se fossem crianças. Mesmo com os ataques, se visse uma mulher não se virava contra ela.”
Acima de tudo, os seus conterrâneos não o temiam, conquanto respeitassem a força descomunal e espectaculosa que o Sr. Albaninho tinha. Quando Albano Beirão se metia, por razões da sua estranha sina, em situações perigosas, livrava-se dos apuros graças à ajuda dos bombeiros. Foi assim “pescado” do alto da estátua do Marquês de Pombal e do Arco da Rua Augusta em Lisboa ou da Torre dos Clérigos do Porto. Um bombeiro portuense acabou por morrer quando tentava resgatar daquela torre da cidade invicta o inusitado escalador. Uma testemunha disse a um jornal que o homem-macaco beirão, urrando pelas ruas de Lisboa, decidiu saltar para o tejadilho de um eléctrico, repetindo esta proeza três vezes, perante o pasmo de quem passava.
Pior, confessou certa vez, era desaparecer o ataque e deixá-lo com a cabeça entalada numa sarjeta. A solução era rebentar com a sarjeta ou esperar pelo próximo ataque. Dizia que na baixa lisboeta fechavam as lojas quando ele passava; no Porto exigiam que as autoridades o levassem para onde não houvesse nem eira nem beira ou pé de figueira…
O registo de um curioso acontecimento da sua vida vai a seguir.
Encontrando-se certo dia na praça da vila da Meda, levantou um dos bancos de pedra que estão junto à igreja. Ergueu a pedra e atirou com ela ao chão, partindo-a em duas. Dois guardas que viram o estrago na coisa pública intimaram-no, sob prisão, a comparecer perante o Administrador do concelho, um tal Dr. Faria.
-- Os senhores não sabem quem é este homem? – inquiriu o Administrador.
Os guardas eram novos no quartel, não sabiam.
-- Ponham-se a andar para o Posto, e depressa, antes que ele faça alguma coisa…
-- E as nossas armas? Nós temos armas, podemos dominá-lo…
-- Quais armas, nem meias armas! Vão-se lá embora antes que ele vos ponha de plantão com uma ou duas palmatoadas tesas!
Quando era acometido pelo estado sobrenatural tinha absoluta necessidade de beber líquidos. Fazia-o com uma sofreguidão animalesca, absorvendo grandes quantidades sem cuidar da qualidade do que ingeria. Diziam que conseguia emborcar dezenas de litros, fosse água, leite, água de cal, água de animais, água estagnada ou de chiqueiro e até urina.
Enfim, o efémero remoinho das façanhas extra-normais do dito Homem-Macaco arriscam-se a passarem, para o futuro, como triviais e pouco inéditas macacadas.
Santos Costa

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.