Trazia um campónio idoso
Um neto no seu burrinho montado
Entrando assim em Trancoso
Com o rapaz bem refastelado.
O velho às Portas d’El-Rei deu fé
De uns homens a dizerem de tal sorte:
- Olha que tal lei esta é
Trazer montado o rapaz forte
E o velho trôpego a pé!
- Tapemos as bocas do mundo,
Disse o velho: - Rapaz,
Desce do burro num segundo,
E vem caminhando atrás.
Monta-se ele, mas ouve dizer
Umas mulheres ao Pelourinho:
- Isto não se devia ver
O tamanhão do velho no burrinho
E o pobre pequeno a correr!
- Eu me apeio, disse com desdém
O velho de boa-fé,
- Vá o burro sem ninguém
E vamos nós ambos a pé.
Junto ao Palácio Ducal
Na retoma do caminho alguém clama:
- Tolos os dois, para seu mal
Preferem calcar a lama!
De que lhes serve o burrinho?
Dormem com ele na cama?
- Rapaz, disse o velhinho,
Se de irmos a pé murmuram,
Ambos no burro sigamos caminho
A ver se inda nos censuram!
Montam, mas ao Castelo, censura igual:
- Apeiem-se almas de osso!
Querem matar o animal?
Apostamos que não é vosso.
- Vamos ao chão, disse o velho,
Já não sei qu’ei-de fazer!
O mundo está de tal sorte
Que se não pode entender;
É mau se monto no burro
Se o neto monta, mau é,
Se ambos montamos, é mau
E é mau se vamos a pé:
De tudo me têm ralhado
Agora que mais me resta?
Peguemos no burro às costas
Façamos inda mais esta.
Saem de Trancoso, pelo Convento
Livrando-se de algum sussurro
Mas ouvem com grande espavento:
- Doidinhos, tornaram-se burros do burro!
O velho então pára e exclama:
Do que ouço me confundo,
Por mais que a gente se mate
Nunca tapa as bocas do mundo.
Rapaz, vamos como dantes
Sirvam-nos estas lições;
É mais tolo quem dá
Ao mundo satisfações!
Um neto no seu burrinho montado
Entrando assim em Trancoso
Com o rapaz bem refastelado.
O velho às Portas d’El-Rei deu fé
De uns homens a dizerem de tal sorte:
- Olha que tal lei esta é
Trazer montado o rapaz forte
E o velho trôpego a pé!
- Tapemos as bocas do mundo,
Disse o velho: - Rapaz,
Desce do burro num segundo,
E vem caminhando atrás.
Monta-se ele, mas ouve dizer
Umas mulheres ao Pelourinho:
- Isto não se devia ver
O tamanhão do velho no burrinho
E o pobre pequeno a correr!
- Eu me apeio, disse com desdém
O velho de boa-fé,
- Vá o burro sem ninguém
E vamos nós ambos a pé.
Junto ao Palácio Ducal
Na retoma do caminho alguém clama:
- Tolos os dois, para seu mal
Preferem calcar a lama!
De que lhes serve o burrinho?
Dormem com ele na cama?
- Rapaz, disse o velhinho,
Se de irmos a pé murmuram,
Ambos no burro sigamos caminho
A ver se inda nos censuram!
Montam, mas ao Castelo, censura igual:
- Apeiem-se almas de osso!
Querem matar o animal?
Apostamos que não é vosso.
- Vamos ao chão, disse o velho,
Já não sei qu’ei-de fazer!
O mundo está de tal sorte
Que se não pode entender;
É mau se monto no burro
Se o neto monta, mau é,
Se ambos montamos, é mau
E é mau se vamos a pé:
De tudo me têm ralhado
Agora que mais me resta?
Peguemos no burro às costas
Façamos inda mais esta.
Saem de Trancoso, pelo Convento
Livrando-se de algum sussurro
Mas ouvem com grande espavento:
- Doidinhos, tornaram-se burros do burro!
O velho então pára e exclama:
Do que ouço me confundo,
Por mais que a gente se mate
Nunca tapa as bocas do mundo.
Rapaz, vamos como dantes
Sirvam-nos estas lições;
É mais tolo quem dá
Ao mundo satisfações!
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