terça-feira, 9 de outubro de 2018

LENDA DE BANDARRA


Para o Dia da Criança e da Juventude, a Câmara Municipal de Trancoso teve a louvável iniciativa de oferecer, a cada um dos alunos do concelho, um exemplar das Lendas de Trancoso, brochura de formato A4 que contém, nas suas 32 páginas, exactamente 30 lendas do concelho. O trabalho foi feito por mim, a título gracioso (como se diz, "pro bono"), ilustrado de forma a poder ser colorido pelos mais jovens. A cada lenda uma página e uma gravura alusiva.
De entre as lendas, uma delas encontrei-a numa obra desse admirável Homem que foi o Padre António Vieira, para quem Bandarra era uma figura notável.
E é essa lenda que reproduzo a seguir.


QUE SE COMPRE BAETA
Passeando dois escudeiros, encontraram o Bandarra. Quiseram então saber o que ia acontecer nos tempos mais próximos.
“Temos alguma coisa de novo, Gonçalo Anes?”
O Bandarra encarou-os e respondeu: “Sim, temos.”
“E quê?” Tornaram os escudeiros, agora expectantes.
“Que se compre baeta”.
Os escudeiros entenderam que na casa de algum deles ia acontecer alguma morte. Comprava-se baeta para se vestir quando houvesse luto na casa.
“E qual de nós é que há de comprar baeta?”
O Bandarra respondeu:
“Todos”.
Acaso viria alguma peste que levasse toda a gente da vila? Não inquiriram mais, pois o vate continuou o seu caminho com ares de quem não queria responder a mais perguntas.
Daí a poucos dias adoeceu gravemente o infante D. Luís, filho de el-rei D. Manuel e, por sua morte, foi decretado luto geral em todo o reino.
Então os dois escudeiros entenderam o vaticínio do Bandarra. Todos os portugueses teriam de comprar baeta para vestirem pela morte do príncipe.

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