sábado, 19 de março de 2016

CONTOS DE AMOR E DRAMA - VOLUME 2

A 25 de Fevereiro coloquei aqui a entrega, por parte da gráfica, do primeiro volume desta série "Contos de Amor e Drama". Menos de um mês depois, estou novamente a noticiar que irei receber, na próxima segunda-feira, o 2º volume, de que reproduzo a capa e três das vinte e oito imagens do interior, ilustrações de cada um dos contos.




Disse então que estava já a trabalhar no 4º volume, o qual já terminei e, em breve, seguirei para o 5º.
Repito que todos os volumes têm 206 páginas cada um e foi a forma mais propícia que encontrei para arrumar e publicar todos os contos que fui publicando ao longo de uma década em revistas e jornais. Tive de recorrer a originais, alguns dactilografados através de máquina de escrever mecânica e outros através de recortes dessas publicações, o que me levou, em grande parte, à reprodução através do sistema OCR.
Os contos não se cingem apenas ao trivial romance cor de rosa (grande parte com mais propensão para o cinzento e o negro), e englobam aventuras passadas em todos os continentes e oceanos, desde o séc. XII até ao séc. XXI.
Quando periodicamente e com muita regularidade publiquei a maioria deles, para alguns precisava apenas de uma hora para congeminar a acção e reproduzi-la, tantas vezes com a "chave" criada após o acordar pela manhã ou na hora do duche.
Nessa altura, para além dos contos com periodicidade semanal (alguns) e quinzenal (outros), ainda colaborava com uma página semanal de caricatura num jornal de Lisboa e de uma página de BD noutro semanário da capital. Se vos disser que das 9 horas da manhã até às 17, 30 h da tarde estava a desempenhar as minhas funções profissionais (e aí em exclusividade, sem intromissão desta ou de outras criatividades que não estivessem relacionadas com a profissão) não me perguntem como o consegui, porque não sei responder.

sexta-feira, 18 de março de 2016

ENCICLOPÉDIAS ALEGRES (7) - BRUXAS

GALINHAS. Alterando um pouco o aforismo que provém de uma adivinha popular, a minha questão é esta, para alguém responder sem passar este parágrafo: o que é que as bruxas fazem diferente das galinhas quando se agacham?
A resposta é simples: as bruxas dobram os joelhos para a frente e as galinhas para trás.
Com ou sem joelhos nas galinhas, acreditava-se que uma galinha a cantar como um galo era prenúncio de adversidades para os donos, pelo que devia ser dada, de preferência vendida, e o dinheiro usado para gaspear os sapatos. Quem comprasse a galinha devia comer uma refeição atrás da porta, evitando que a galinha engrossasse o canto e imitasse o macho, renovando o ciclo.
GALOS. Os galos têm uma magia especial para o mundo da superstição. Não é suspeito que façam fugir uma bruxa, mas é popularmente corrente que fazem fugir o diabo, principalmente se forem de cor preta: os galos pretos romanos.
Se pescarmos a Lenda dos Galhardos, que até dá o nome a uma calçada na Serra da Estrela, nela se diz que esse nome é atribuído aos demónios, pelo facto de terem na testa dois galhos ou chifres. Diz-se que os ditos Galhardos deitaram mãos à obra para construírem a via numa só noite, incluindo nela uma área de serviço e duas faixas de rodagem, mas era-lhes imposta a condição de a terminarem antes do cantar do galo. Se o galo cantasse, o trabalho e a empreitada acabaria logo ali.
A calçada ainda não estava terminada quando o galo cantou. Um dos diabos, que queria dar por finda a tarefa, disse: “Vamo-nos, já cantou o galo.” E outro, que a pretendia terminar, retrocou: “Foi o galo pardo”. O primeiro insistiu: “Não, foi o galo preto romano.”
Mal foi identificado o galo cantante, todos largaram o trabalho e desataram a fugir para o lugar de onde tinham vindo. Por isso, a calçada parece estar incompleta. Quanto à simbologia do galo espanta-diabos encontra-se no alto das torres de muitos templos, como cata-vento.
Se já repararam, o galo de Barcelos é negro, se bem que colorido quanto baste com uns vermelhos e amarelos e umas pintinhas brancas, se excluirmos o vermelho garrido da crista e dos gorgomilos.
As bruxas, para além de não os temerem, até os comem, preparados no género Coc Au Vin (Galo ao Vinho) ou até capões à Freamunde, servidos com farófia, salpicão e presunto.
GATOS. Um gato preto é semelhante a outro gato qualquer, à excepção da cor. Gosta que lhe passem a mão pelo lombo, adora perseguir ratos e lambe-se com as rações apropriadas para a espécie. No entanto, parece que a apetência das bruxas é semelhante à de Henry Ford quando dispôs o seu modelo T aos clientes: podem escolher qualquer cor, desde que seja preto.
Há notícia, não oficialmente confirmada, de que uma bruxa ao ser queimada transformou-se num gato preto. Ter-se-á transformado num tição preto, do tamanho de um gato, teria sido esse o erro de visão? Assim, com essas mirabolantes visões e interpretações, como aquela que assegurava que as bruxas durante a noite se transformavam em gatos pretos, fez com que fossem perseguidos estes animais de cor escura. Para contradizer esta chacina ignóbil, alguém introduziu a superstição na qual gatos pretos trazem felicidade, mas não se devem matar, pois dá azar e sete anos de atraso ou menos sete anos de vida para quem o fizer.
Para que os gatos não fujam da casa dos donos, untam-lhes as patas com azeite quando são pequenos.
GOYA. De seu nome complete Francisco José de Goya e Lucientes, foi um pintor espanhol (1746-1828) que muito bem retratou em quadros, águas fortes e esboços impregnados de cores escuras e macabras, as bruxas e o diabo, este último representado como um bode de enormes chifres, tão grandes que nos causa estranheza como é que ele passava as portas do inferno com aquela armação!
Uma das obras do pintor que deixou na série Quinta del Sordo e Caprichos, é conhecida por El Aquelarre (vocábulo basco que significa bode do campo). Esta pintura foi feita para a sua casa na Quinta del Sordo e é também conhecida por El Gran Cabrón.
Nas telas não faltam criancinhas nas mãos das endemoninhadas criaturas, a dar razão à superstição popular e ao facto de o próprio pintor ter sido apanhado, não pera Operação Lava Jato ou pela Operação Marquês, mas pela adversidade – de vinte filhos que sua esposa Josefa Bayeu deitou ao mundo, só um sobreviveu.
GRAVIDEZ. Esta serve como receita: a mulher que vai dar à luz deve espetar um prego no chão, evitando, deste modo, que as bruxas “entrem” com o recém-nascido. Porém, se a criança já chorou três vezes no ventre materno, nem esta precaução lhe valerá.
Só vejo um senão nesta prática, uma vez que a maior parte das grávidas vai dar à luz nas maternidades: como é que elas irão justificar às enfermeiras o pedido de um prego e um martelo?
GUARDANAPOS. Já toda esta gentinha, que tem pachorra para ler esta enciclopédia, sabe que no final das refeições, o pessoal convidado ou não convidado, tem a mania de dobrar o guardanapo: uns preferem deixá-lo como uma rodilha; outros tentando reproduzir a forma de um triângulo equilátero; ainda outros mais, deixando-o tal e qual o largam após a limpeza labial superior. Não acreditamos que esse gesto pretenda ocultar as nódoas de azeite, das ovas de esturjão, o molho do camarão e da santola ou ainda o da “pomada” retirada da botelha de um Montrachet ou de um Vosne-Romanée, para só citar dois dos mais caros das cerca de seis milhões de marcas que há no mundo.
É claro que num restaurante com guardanapos de papel, e mesmo aqueles que arrebanham à toa nas lojas de fast-food para limparem as mãos untadas de tudo o que metem nos hamburgers, ninguém se dedica a essa meticulosa tarefa, deixando-os dobrados e vincados como origamis, ou simplesmente amarfanhados dentro dos recipientes para reciclagem. Esquecem-se – ou não sabem – que a superstição não recomenda à pessoa que visita ou frequenta esse refeitório que, ao fazer essa operação de dobragem, arriscam-se a não voltar lá segunda vez.
Bem, uma coisa é certa: comigo não resulta essa receita fantasista e não assino de cruz na crendice.
Por outro lado, encontram-se à venda guardanapos do Dia das Bruxas tão baratos que até dá vergonha pedir documento capaz de entrar no e-fatura, para mais quando sabemos que são vendidos para assustadoras festas de Halloween, pelo que fica a ideia de as bruxas terem as costas largas e não fazerem milagres. Bem, pelo menos, milagres para a cura de juízo de muito desaparafusado dele.

quarta-feira, 16 de março de 2016

PRANCHA ACABADA



No dia 14 de Março coloquei aqui uma prancha inacabada, a qual já se encontra concluída com as duas outras vinhetas coloridas e o texto colocado.
Como sou uma pessoa que não se contenta com um trabalho finalizado (nada é perene), por vezes dedico-me a alterar "à posteriori" as minhas criações, mesmo que já tenham sido publicadas. Neste caso, tendo sido publicado a preto, pretendo "ver" o tratamento da cor, aqui e ali alinhando algumas alterações de acordo com a disposição do momento. Repito, mais uma vez, que salto com frequência do desenho para as obras de ficção ou de investigação em texto, às vezes no mesmo dia, ciente de que, como dizem os rifões,  "não há comida que não farte, nem vício que não enfade" e "nada há que não possa ser" ou ainda "nada é aborrecido quando é feito de boa vontade".

terça-feira, 15 de março de 2016

ENCICLOPÉDIAS ALEGRES (4) - IMPOSTOS

Para um benfiquista, este seria o imposto a criar para os adeptos do Sporting, os quais, por sua vez, pretenderiam o Vermelho ou Encarnado para os do Benfica. Enfim, para se não rirem uns dos outros o Imposto Verde é para todos.
Este imposto, que efectivamente se chama Imposto Verde, criado dentro do espírito da fiscalidade verde, circula por aí em forma de três e veste-se com o traje de taxa: uma taxa sobre os sacos de plástico; um agravamento do imposto sobre os produtos petrolíferos; uma taxa sobre os recursos hídricos.
A taxa sobre os sacos de plástico fixou-se em oito cêntimos por saco, alegando-se num arrazoado justificador para, segundo o legislador, a quem compete congeminar sempre justificações, reduzir a utilização de sacos para um nível máximo de 50 sacos per capita ao ano em 2015, e de 35 sacos per capita ao ano em 2016. Quando se decidiu, por esta via e muito justamente, pôr cobro a tanto desperdício, cada português utilizava em média 466 sacos!
Quanto às estatísticas, sou sempre desconfiado, porquanto as médias levam o justo e o pecador para números que não são de um nem do outro, como o ditado que diz: por um que morre de sede, morrem cem mil por beber de mais.
Há indígenas que requeriam um saco onde cabia um presunto para transportarem apenas um pacote de amendoins. E havia outros que se recusavam a levar para casa os jornais semanários se não fossem encafuados nos sacos apropriados, embora nestes casos se compreenda que, dada a profusão de encartes, o mais apropriado era um carrinho de mão.
É, por assim dizer, uma coisa escorreita, de nomeada se afigura, e um pacote de taxas, se não receber posteriormente mais uma taxa sobre os pacotes que substituírem os sacos de plástico.
A cor verde parece andar na moda, embora nalguns casos, tomando-lhe o nome quem nada tem a ver com ela, nos faça confusão: há o Gasóleo Verde, que se destina às máquinas agrícolas, mas algumas “lavram” com ele a 120 à hora nas vias rápidas; há o partido que se diz ecologista e que assumiu a designação de Verdes (mas que se juntou aos Vermelhos); há a Via Verde, aberta para quem adere a passar por ela como cão por vinha vindimada ou com uvas ainda verdes; o Correio Verde, quando a cor dos CTT é vermelha; celebra-se o Dia Verde por um mundo mais sustentável e nunca ninguém se lembrou do Dia Vermelho (ao que julgo, apenas o Dia do Nariz Vermelho); degusta-se o Vinho Verde, mas ninguém ainda provou o Vinho Vermelho, embora a água-pé e alguns tintos baptizados assim se vejam (baptizou-se um vinho Verdelho para que o vocábulo misturasse as cores); a eléctrica de Portugal criou a Casa Verde, que é suposto rentabilizar e poupar energia, mas que deixa os cinsumidores vermelhos perante a factura; a própria EMEL criou um Dístico Verde, que permite o estacionamento aos carros eléctricos sem pagamento de tarifa e sem limite de tempo, mas é com aqueles sem este dístico que vai facturando; e também se canta e dança o Verde Gaio, quando a ave até possui uma plumagem castanho rosada (mais para o vermelhusco em dia de sol) ou ainda azul. E não falta aquela piada: “os óculos de cor verde servem para verde perto”; ou ainda essa outra, mais áspera: “quem deita Cheiro Verde (pivete) é o Hulk”.
Com tanto verde, acabada a “mania” dos plásticos, poderá continuar a taxa para todos os que se deitam na relva dos campos e jardins ou usufruam, ainda que circunstancialmente, da sombra das verdes ramagens. Não consta que sejam tributados, com uma taxa verde bem agravada, aqueles que, ao poder do fogo, realmente são os que mais contribuem para o desaparecimento dos verdes.
Ainda pela cor, à guisa de nome para um imposto que se afigura como taxa, pelo caminho ficou a taxa sobre o transporte aéreo, que também constava da proposta dos peritos. Prometeu-se legislar, mas de promessas quem vive é santo. Como a procissão ainda vai no adro, veremos o desenrolar dos romeiros ao entrar no templo, queira Deus não se tresmalhem sem a vigia dos mordomos.

Para que não haja equívocos: apoio incondicionalmente o Imposto Verde, tratem-no por taxa ou pelo que quiserem.

segunda-feira, 14 de março de 2016

PRANCHA ACABADA-PRANCHA INACABADA


Uma vez que reparto as minhas apetências entre o texto e o desenho, abro aqui este intervalo à guisa de "descanso" das Enciclopédias Alegres, para expor uma prancha de BD, devidamente acabada, com uma outra onde apenas estão coloridas as duas primeiras vinhetas, uma vez que os acabamentos dos traços e da cor (bem como os textos) os dou em computador através dos programas apropriados.
No entanto, esta é uma "nova" abordagem à publicação que já dei à estampa, a preto, onde se notam algumas diferenças (e não só no desenho), como facilmente se poderá verificar.

domingo, 13 de março de 2016

ENCICLOPÉDIAS ALEGRES (6) - BRUXAS

FACAS. As bruxas, tal como os políticos e demais cozinheiros, utilizam estes instrumentos, embora dos três mencionados, só os políticos é que as arrumam nas costas dos parceiros. No entanto, as bruxas não consideram a utilização de facas de ferro, uma vez que estas são uma boa protecção contra elas e os restantes espíritos malignos. Por certo, estarão mais interessadas nas facas de prata e ouro, disputando estes instrumentos culinários com o ministério dos Negócios Estrangeiros, à compita nos melhores ourives do ramo.
Em certos países do norte da Europa, parece que ainda há o costume de colocarem uma faca debaixo da almofada da cama para afugentar o mal e o Diabo.
Cruzar duas facas é prenúncio de azar ou de crime
FADO. O Fado que vai ser aqui exposto nada tem a ver com aquele que sai das gargantas da Mariza, do Camané, da Carminho e da Gisela João ou do meu vizinho Malaquias quando anda com os copos. Trata-se, isso sim, do fado como destino, aquilo que tem de acontecer, de quem, logo à nascença, fica talhado para bruxa ou bruxo.
A criança que nascer com uma cruz no céu da boca ou que chorar três vezes seguidas no ventre materno está predestinada a ser bruxa ou bruxo, consoante o sexo. Há casos raríssimos, em que estes sinais proporcionaram um presidente da república, um notário e um carteirista, mas também pode ter sido mal interpretada a cruz na boca e o choro no ventre.
Com ou sem cruz, seguirá este destino a menina que nascer da união entre um compadre e uma comadre.
Sem os sinais anteriores, será fadada a filha de um só casal, cujo destino poderá ser alterado por uma avisada pessoa que tiver o cuidado, logo que nasça o bébé, de lhe picar o dedo mindinho. Nestes casos, a maior parte das maternidades já presta estes serviços sem o saber, ao picar o recém-nascido para exame de bilirrubina, de glicose, do grupo sanguíneo ABO e RH, testes de hipotireoidismo e doença dos pezinhos.
Há quem assegure que o estigma deste fado só acontecerá à sétima filha (segundo as estatísticas da natalidade, caso raríssimo), mas mesmo este poderá ser evitado desde que a mais velha seja a madrinha da mais nova.
FEITICEIRAS. Há quem leve este termo como sinónimo de bruxas, mas não é bem assim. Feiticeira é aquela que faz feitiços e, por conseguinte, magia. Para ser mais preciso, terei de dizer que a feitiçaria faz parte da bruxaria, mas bruxaria nem sempre faz parte da feitiçaria. A bruxa já nasce bruxa, é um dom natural, enquanto a feiticeira tem de aprender a arte, mesmo que frequente um curso no instituto adequado, numa escola profissional com esse curso aprovado ou numa universidade sénior. Ambas as “artes” trabalham com magia, pelo que se podem dizer magas.
FERRADURAS. Importantes amuletos, afastam dos malefícios das bruxas quando colocados atrás da porta da casa. Não será de utilizar uma ferradura qualquer, pois o sortilégio só funcionará se o adereço respeitar à pata esquerda traseira de uma mula, de um burro ou de um cavalo, mas com as pontas viradas para cima. Também é de salvaguardar um pormenor: a ferradura tem de ser usada, evidentemente, por um dos quadrúpedes apontados.
Eu mencionei quadrúpedes e não bípedes, pois estes últimos não usam ferraduras, embora alguns escoicinhem tanto como mulas bravas.
Na Idade Média acreditava-se que as bruxas temiam os cavalos. Andavam de burro e, mesmo nestes solípedes, sentavam-se neles ao contrário. Nesse tempo, era costume pregar ferraduras nos caixões das mulheres acusadas de bruxaria para que não ressuscitassem. Actualmente, como já se fabricam poucas ferraduras, substituíram nesses sarcófagos de madeira as ferraduras por arranjos florais de urzes, íris, cravos e margaridas, inseridos em blocos de espuma.
FIGAS. O termo não significa, de facto, o feminino de figo no seu plural. Para se ter uma ideia deste amuleto, é representado por uma mão fechada com o dedo polegar metido entre o indicador e o médio. Entre outras virtudes medicinais, o gesto faz-se para esconjurar bruxedos. O talismã, suspenso de uma corrente de pulso ou pescoço, quer em prata quer em ouro, mesmo em pechisbeque, gere a segurança do portador contra maus-olhados e ares maléficos. Não livra, por exemplo, de uma multa de trânsito, do calote de dinheiro emprestado a canzeiros, ou de outras inesperadas sequelas da nossa imprevidência.
Uma figa curiosa é o chamado signo salomonis, em forma de dois triângulos entrelaçados, formando uma cruz. Este símbolo era desenhado nas barras das camas e os lavradores não o dispensavam no madeiro da canga dos bois.
FILTROS. Não filtram água nem vinho e também não são eficazes para gasolina, ar e óleo dos motores de combustão. São afrodisíacos feitos com ervas ou outros elementos naturais para despertar o desejo sexual e o amor. Por isso, também são ditos e reditos "poções de amor", muito embora os filtros, ao contrário das poções, não necessitem de caldeirão, cozedura e água a ferver.
FOICES. Para além de símbolo eterno do partido comunista espalhado pelo mundo (ou o que resta dele), ou ainda artefacto de Panoramix, o venerável druida da aldeia de Astérix, as bruxas não utilizam este instrumento nem faz parte da sua iconografia. Se tanto, servem-se da foice para cortar ervas e outros ramos que lhes servem de condimento para as poções.
Com a treta do Halloween, a foice ganhou popularidade como foice da morte, tendo-se mesmo feito uma imitação tosca do símbolo do PC com a espada da morte cruzada com a foice do Dia das Bruxas, ou seja, para este símbolo daquele dia, o martelo foi-se.

sábado, 12 de março de 2016

ENCICLOPÉDIAS ALEGRES (3) - IMPOSTOS

Esta obrigação correspondia ao pagamento pela utilização das instalações do castelo. Se o servo precisasse usar o moinho ou o forno, deveria pagar uma taxa em mercadoria para o senhor feudal.
Ora vejamos: quem trabalhava nas obras de construção do castelo, do moinho e do forno, de forma grátis, como pagamento da Anúduva, a Fossadeira e a Corveia, outros três impostos em serviços? O servo, naturalmente. Se precisasse de o utilizar, estava sujeito à banalidade. Esta política entre direitos e deveres faz-me lembrar que, nesses tempos, os servos só deviam conhecer os últimos, sendo-lhes vedado os primeiros, ou seja: pagavam para não entrar, mas, estando dentro, pagavam para não sair.
Dava-se o nome de banais aos equipamentos de produção, que pertenciam aos senhores ou ao rei. Se as populações necessitassem de os usar, pagavam um certo foro ou renda. Daí o nome de direitos banais ou banalidades para esses encargos. O trabalho dos servos na gleba e nas obras do castelo também eram considerados banais pelos senhores figurões do feudo. 
Os reis retinham para si e seus sucessores os moinhos, azenhas e prensas feitas e a fazer, ademais dos açougues, fangas, lagares para vinho e para azeite, fornos de telha, de olaria, de cal e de pão, até barcos, lojas e balneários públicos (entre outros que nem o próprio rei julgava tutelar), de modo que se alguém os usasse teria de pagar à Coroa o foro de um décimo no uso dos ditos. Não fará confusão para as mentes tributárias de hoje a aplicação dos dez por cento sobre os moinhos, barcos, fornos de olaria e por aí adiante. Seria fácil apurar dez por cento do produto resultante daquelas actividades, como era então comum taxar; já o mesmo se não pode dizer dos balneários públicos – dízimo sobre o quê?! A utilização das toalhas ou o número de banhos?
Se ao menos se pudesse consultar o respectivo índice no então medieval Instituto Régio de Estatística…
Intentei encontrar através dos motores de buscas da internet qualquer sítio onde pudesse encontrar um código deste imposto e fazer “download” mas apenas encontrei a definição de banalidades como trivialidades, lugares-comuns e aquilo que já sabia, à excepção de um exemplo dessa cobrança que reza assim: pelo uso de um moinho “devedes dar a sexta parte de todo aquello que Deus hi der”.
Há muito tempo que foi abolido este encargo, tanto que nenhum imposto actual pode assumir este designativo de direito ou de facto, de forma que qualquer imposto em uso não pode ser tido por banalidade como rodilha à cabeça de uma fonteira.
Eu escrevi “há muito” mas o mais correcto seria ter posto “não há muito tempo”, pois as banalidades levaram uma quase extinção através de um decreto de 20 de Março de 1821, que suprimiu muitos destes direitos, e da machadada final com a Lei de 22 de Fevereiro de 1846, que os aboliu a todos. Se tal ainda persistisse, ou teria de alterar o nome ou desaparecia mesmo, porque a fiscalidade, agora de braço dado com a da Comunidade da Europa, não estaria disposta a gastar cera com tão ruim defunto.

sexta-feira, 11 de março de 2016

ENCICLOPÉDIAS ALEGRES (2) - IMPOSTOS


O Fossado devia ser o mais exótico dos impostos, se fosse aplicado aos proprietários e produtores de porcos bísaros, pata negra ou malhados de Alcobaça. Mas não. Quem fossava para este imposto não eram os suínos, que já os havia em larga escala, mas os trabalhadores da gleba, através da sua mão de obra para serviços de construção de castelos ou fortificações militares, bem como o serviço militar a que estavam obrigados os cavaleiros vilãos e peões.
Era, como se compreende, um imposto em espécie, e não em alheiras com botulismo, sendo a espécie o trabalho e a prestação de serviços, que sobrecarregava aqueles que acusavam níveis baixos de testosterona.
E quem se escusasse ao fossado? Tal como hoje – e sempre – teria uma multa ou coima a bater-lhe à porta, que se chamava fossadeira e não era mais suave do que as suas congéneres de hoje.
Mais tarde, este encargo passou a ser remido a dinheiro, uma vez que o valor é semelhante para todos os sujeitos passivos. Digo isto porque, sendo um imposto generalizado, por efeitos de contágio, alguns sornas e menos trabalhadores contribuíam com uma fatia menor, o que não era justo.
Se atentarmos que, embora comunitário, o trabalho era de graça, é evidente que se tratava de um imposto. Diz um ditado que quem trabalha de graça é o relógio, e mesmo assim é porque lhe dão corda e não faz força.
Fossadeira, de início, era a multa que tinham de pagar os que faltavam ao fossado, todavia com o passar do tempo transformou-se num tributo, em géneros ou dinheiro, que remia a prestação desse dever militar, principalmente em tempos de austeridade imposta pela troika: Almançores, Filipes e Napoleões. Não admira, pois, que existissem fossados de nível 1 e nível 2, e ainda aqueles sem nível algum.
A antiga fossadeira, como multa e sem arganel porcino, é tão velha e relha quanto as primeiras expedições militares cristãs da Reconquista. Com a consolidação do domínio cristão na Península, a participação dos vilãos nas expedições militares em território muçulmano foi-se tornando menos frequente, e a fossadeira, em vez de se extinguir como seria de esperar, converteu-se num tributo fixo, perdendo o seu originário carácter de multa, o que veio dar ao mesmo.
Com a passagem dos tempos o vocábulo entrou na gíria popular daquele que trabalha e ouve-se, por vezes, em jeito de desabafo: “passo o dia a fossar e não vejo ganho algum”. Parte desse “fossado” fica em retenção na fonte, designativo apropriado que parece ter saído de um romance de Camilo, no tempo em que ele descrevia as moças casadouras que iam à fonte com as bilhas de barro. Retenção na fonte não é, pois, a retenção das fonteiras, junto à bica ou chafurdo, pelo namorado. Não é. Enquanto estas fontes camilianas secavam pelo menos no pino no verão, estas, que aqui referimos, nunca secam. 

quinta-feira, 10 de março de 2016

ENCICLOPÉDIAS ALEGRES (1) - IMPOSTOS


Trazer aqui assuntos com este tema, ainda para mais com a palavra alegre, não deixa de causar alguma perplexidade a todos, se exceptuarmos o ministro das Finanças por uma centena de razões. Descansem todavia os já sobrecarregados, que a maioria dos assuntos que trarei a conta-gotas a este pórtico fazem parte da tributação de tempos idos, ressalvando algum caso que possa servir à reposição de imposto análogo para satisfazer as exigências troikistas.
Assim, hoje refiro a COLHEITA, sabendo de antemão que, mesmo sem este designativo, nunca deixou de figurar no cardápio fiscal dos governos em qualquer parte do mundo.

Colheita deu origem ao termo que hoje, em termos fiscais, chamamos colecta. Este não era um imposto individual, do género que recai sobre aquele que planta uns bacelos para colher uvas e espremê-las para fazer vinho ou outro que semeia um campo de trigo para  depois o ceifar. A Colheita tributava colectivamente os concelhos e não admitia refractários. Consistia no fornecimento de víveres para a mesa real e toda a corte aquando da passagem do séquito pelas povoações. Consistia no aboletamento do grupo, a maioria provindo do Paço, mas não significava colecta em dinheiro sonante. Era uma verdadeira colheita nos celeiros, nas adegas e fornos públicos, com grande chocalhada, graças ao transversal desejo de boa cama e boa mesa dos cortesãos. Terra que recebesse aquela gentinha da Corte era como se abrisse a porta aos foliões do carnaval de Torres Vedras.
Imaginam as exclamações dos ditos: “Olha que rico queijo da serra” – toca a cortar; “olha este presunto que parece um alaúde” – toca a fatiar; “olha ali o salpicão e a chouriça, que deitam um aroma que faz salivar” – toca a deglutir; “olha-me aquele barril que deve ter no seu bojo aquilo que Baco não provou” – toca a sangrar. E tudo a “curtir” de borla!
Ainda hoje, que nos julgamos livres desta Colheita, por não aboletarmos a “troupe” do mando, podemos ter a certeza que o queijo, o presunto, o salpicão e o vinho, lá vão ter à mesma, sem as mesmas voltas. Nos tempos antigos, era uma carga directa, sem intermediários de cobrança e sem execuções fiscais para os relaxados. Era o “imposto na hora”.
Os beneficiados  passavam à prática do ensino bíblico: olha as aves do céu, que não semeiam nem colhem…
Não é de admirar que em termos eclesiásticos também existisse a colheita, esta como oferta, mas que passou a ser pedida como imposto, a que se deu o nome de jantar e parada (mesa e cama), com uns fins equivalentes aos régios, com a diferença de que eram beneficiários o bispo e a comitiva. Enfim, lá estavam os mosteiros obrigados a essa aposentadoria, o que ia dar ao mesmo: o povo, à roda dos mosteiros, contribuía para a aposentação.
No entanto, com o decorrer do tempo, a Colheita, que era na prática uma contribuição de assistência, passou a imposto, pago anualmente por todos os concelhos, através de uma certa quantia, esta em dinheiro sonante e não em géneros.
Colheitores e colheitados eram aqueles que se colocavam nas duas posições de colectores e colectados (se pensarmos em termos do Novo Acordo Ortográfico, este também colheu o “c”), porque colheita também tem o significado de apanha e safra.
Não sei onde os legisladores da idade medense foram buscar o nome do tributo, mas decerto não o retiraram daquele vilão da Marvel Comics, personagem de BD da Saga Aliança, ao fim e ao cabo um humano infectado pelo vírus tecnorgânico, em vez de um vírus tributário.
Sobre a colheita como imposto, é bom presumir que as tais viagens do séquito real continuaram a ser beneficiadas com os alojamentos, sendo a Colheita uma forma de fazer justiça ao termo colecta, hoje em voga. Nem seria de admirar que a existir, ao tempo, uma Protecção Civil em cada região, pusesse a circular um alerta vermelho à aproximação de tão numerosa e devastadora comitiva de “gafanhotos” refinados.

terça-feira, 1 de março de 2016

ENCICLOPÉDIAS ALEGRES (5) - BRUXAS


EMBRIAGUEZ. Já escrevi atrás – e se não escrevi, faço-o agora – que as bruxas apanham pifos daquele tamanho quando participam nos festejos com o seu patrono. É, como se costuma dizer, de caixão à cova!
Mesmo assim, saem a acelerar com as varinhas, entram em derrapagem nos ares como qualquer jacto F-16 e não têm à sua espera as brigadas com o famigerado balão. Mesmo que as autoridades aí chegassem, com o seu poder de condão, transformariam o balão do álcool num mísero sapo ou numa enguia viscosa. E, por falar em enguias, há quem jure pôr termo à embriaguez, maxime aos seus sintomas, mergulhando uma enguia na bebida.
Cá para mim, esta receita só resulta se o embriagado der conta da manobra, cessando a sua vontade de beber; pelo menos, de beber onde a enguia mergulha.
Parece que os antigos franceses (mais propriamente os galeses contemporâneos de Astérix e Obélix, que bebiam à farta), tinham o método de curar a bebedeira comendo pulmões assados de porco.
Nos tempos de hoje há as receitas pataqueiras de beber café, mastigar grãos dos ditos, injecções de glicose e duche frio, ou ainda morder o pneu da roda traseira de um carro policial, para atenuar ou eliminar o porre (como dizem no Brasil). Possivelmente, uma outra receita com resultados mais práticos é a de contemplar, durante um minuto e sem piscar os olhos, uma fotografia do elenco governativo nas escadinhas do palacete de S. Bento.
ENDOR. Trata-se de uma aldeia bíblica com esse nome, situada no Vale de Jizreel, onde vivia uma bruxa, que passou a ser conhecida por Bruxa de Endor. Pode ler-se no Antigo Testamento (1 Samuel 28:7-25), que regista tratar-se de uma necromante que foi consultada pelo rei Saul quando este pretendia comunicar com o espírito de Samuel. A bruxa informou, supostamente através do espírito de Samuel, aquilo que ele já havia predestinado em vida, acrescentando porém que Saul iria morrer no dia seguinte. Embora não morresse no dia seguinte, faleceu passados três dias.
Segundo Orígenes, a voz de Samuel era, de facto, da própria bruxa, que possuía o dom da ventriloquia.
Na ficção, o nome da bruxa não conta para nada, pois ficou conhecido o lugar onde vivia. Assim, Endor é a designação da Terra Média em “O Senhor dos Anéis” e na série de televisão “Casei com uma Feiticeira”, a mãe da bruxa casada, e que faz e acontece ao genro, chama-se Endora. Também na saga “Star Wars”, há um satélite que dá pelo nome de Endor.
Andor (e não Endor) também é uma palavra cabalística quando pronunciada com ênfase dirigida ao governo pela boca da oposição.
 ENGUIÇO. O enguiço é sinónimo de quebranto e resulta de um mau-olhado ou de bruxaria. Infelizmente, para os enguiçados, não se resolve com doses de penicilina, nem se avalia com ressonâncias magnéticas sob receita do médico de família.
Ninguém se admire, pois, que o enguiço está em Portugal a passar férias: no Algarve, a banhos; na Serra da Estrela no bate-cu da neve; no Centro Cultural de Belém a contemplar a arte e no Parlamento quando precisa de tirar uma soneca. Move-se numa “geringonça” licenciada pelo IMTT e pela Troika.
Como enviar o enguiço para além das fronteiras de Schengen? (Para quem não saiba, Schengen é uma localidade luxemburguesa situada nas margens do rio Mosela e não uma cidade da China, como o próprio nome parece indicar). Não sei, é a resposta. Se o soubesse, espantaria o que me atormenta.
A convenção da arte do feitiço recomenda a consulta a outra bruxa ou feiticeira diferente da agente causadora do malefício, na esperança de que tenha poder para desenguiçar o paciente. É interessante especular relativamente à forma como a dicotomia bem e mal se encontra sob o poder das bruxas.
Consoante a clientela e o pedido, assim determinam, umas e outras, a borrasca e o bom tempo, tal como a roda dos advogados que ora acusam, ora defendem. É evidente que, em ambos os casos, com facturação e sem IVA incluído.
ERVA-MOURA. Trata-se de uma planta de mau agouro e, ainda por cima, tóxica, utilizada nas poções das bruxas. No Brasil chamam-na mata-cavalo, pimenta de rato ou aguaraquiá, mas o problema dela não está na designação. Parece que era utilizada contra os espíritos malignos, cobranças fiscais e das dívidas através do Pepex (sendo que este último também se afigura um preparado do caldeirão).
Avisa-se que as poções só devem ser feitas por profissionais e não devem ser tentadas em casa, mesmo que se possuam os ingredientes de sodalita, turmalita, ametista, pêlos púbicos de Belzebú ou ainda pêlos da cauda de touro saído vivo da arena de Barrancos.
ESCRITA. Tal como a linguagem dos contrabandistas quadrasenhos (Sabugal), não entendida pelos leigos e estranhos ao círculo da candonga, a escrita dos bruxos e bruxas também não podia ser lida por qualquer letrado. Talvez o único que lhe ferrasse dente era o tal Jean-François Champollion, aquele que conseguiu ler naquelas cobras, olhos e passarada da Pedra de Roseta. Mas ele não se dedicou a isso e nenhum editor lhe encomendou o trabalho de tradução.
Pois bem, a escrita do bruxedo rege-se pelo alfabeto tebano e não consta que tenha sido alterada pelo acordo ortográfico de 1990. Tal alfabeto, a que se refere Cornellius Agrippa tem origem, como o seu nome indica, na cidade de Tebas e é semelhante ao alfabeto etrusco, que não facilita nada. Certas obras de Lobo Antunes e de outros congéneres teriam o mesmo efeito se fossem escritas segundo aqueles abecedários.
ESPELHOS.
Um dos contos recolhidos pelos irmãos Grimm fala da rainha má e da sua enteada, a Branca de Neve. Certamente as visitas da rainha ao seu espelho, as perguntas que invariavelmente lhe fazia, todos as sabem: “Espelho, espelho meu, existe no mundo alguém mais bela do que eu?”
Também não é sinal de sorte ter um espelho partido em casa.
Este espelho da rainha má é agora utilizado pelos governantes, os quais, à socapa, se dirigem ao dito e questionam também com a mesma desfaçatez e despudor: “Espelho meu, espelho meu, existe em Portugal quem governe melhor do que eu?”
Não se sabe quais as respostas do espelho, mas pelos vidraceiros que recolocam os que são partidos na Rua Gomes Teixeira, verifica-se que os esclarecimentos não agradam nada.