domingo, 6 de maio de 2018

A MINHA OBRA DESENHADA "NÃO EXISTE"!


É raro, senão caso único, vir aqui colocar um texto sem imagem. Faço-o propositadamente e não porque minguassem opções capazes e pertinentes para o fazer. Trata a omissão uma questão de estado de alma (como soe dizer-se e em voga), porquanto o texto se crê nesta hora sozinho, sem o desenho.
A vida e a arte não evolui em retornos, mas deles se serve para progredir. Nem se sobrevive nas artes com conformismos, derrotismos, desprezo ou mesquinhez, se bem que, por vezes, o desânimo quase faça claudicar uma soma árdua de trabalhos.
Serve o arrazoado para falar de dois pormenores que têm a minha obra desenhada, nas suas duas vertentes (BD e Cartune) retirada num apagão que, se não desanima, fere. Todos os que me conhecem sabem que não sou afeito a louvores ou encómios exagerados; também não concilio pacificamente ingratidões ou menosprezos. Ponto final. Parágrafo aqui.
Numa obra enciclopédica sobre a Banda Desenhada Portuguesa, publicada há uns anos, parece-me que fui o único desenhador nacional a ficar omisso nas suas páginas, mesmo sabendo que elas registaram autores recentes e antigos com produção residual. No entanto, os autores não viram – acredito que não vissem – a produção que eu já tinha publicado em álbuns e publicações periódicas, sendo que em jornais nacionais (com sede em Lisboa) mais de 500 páginas. Nem uma linha! Nem uma única imagem sem legenda!
Acabei de adquirir uma enciclopédia de Cartunistas Portugueses, maxime os que foram publicados pela imprensa, e não consta que esses meus trabalhos (que foram mais de 300) tivessem vindo ao lume desta publicação nem o seu autor aí seja referido, perplexidade que ocorre num conteúdo que se estende em 5 grossos volumes. Nem uma linha! Nem uma única imagem sem legenda!
As questões justificativas a colocar seriam:
- terão os autores das obras qualquer má vontade com a minha pessoa? Não, peremptoriamente não. Na altura do seu trabalho, nem sequer me conheciam ou – como diria um dirigente desportivo – me tivessem sido apresentados.
- terá o meu trabalho, por menor valia, imerecido o registo ou não se inserir no âmbito em apreço? Talvez, porque em matéria de gosto não há discussão, embora o meu trabalho a ser excluído do que propõem as obras, não deixe de ser inverosímil.
- terei ficado “de fora” por não me incluir nos desenhadores e cartunistas portugueses? Evidentemente que não, uma vez que não alterei a nacionalidade.
- teria passado despercebido o meu trabalho? Certamente, muito embora a perplexidade sobressaia pelo facto de se tratarem, em ambos os casos dessas duas publicações, de obras de envergadura investigativa e de registo geral, provavelmente com recurso a arquivos e bibliotecas institucionais, das que beneficiam do Depósito Legal.
- teria a omissão ocorrido pelo facto de os autores, ao tempo, não me conhecerem pessoalmente? Não releva, porquanto a obra é que constitui o primado da investigação, e ela foi toda – ou quase toda - publicada em Lisboa e na totalidade em Portugal; por demais, prossegue o caso com o facto de a enciclopédia da Banda Desenhada ter sido publicada pelo mesmo editor que publicou parte da minha obra; e, no caso da enciclopédia do Cartune, ter sido profusamente (e bem) constituídas entradas ao meu antecessor no mesmo jornal.
Concluindo, à guisa de acórdão. As omissões não são graves (a não ser para mim) e a pena que nelas recai não ultrapassará a mera conjectura e ressonância de que não é um trabalho perfeito e completo, mesmo que só tenha sido uma única omissão – a minha.
Daí este meu desabafo público – e não queixa, de que sou avesso a essa forma de ser – para que haja algum cuidado, em obras desta natureza, que se pretendem abrangentes, na busca demorada e proporcional ao bom resultado final, calafetando buracos como se fossem o casco de um navio, em vez da pressa em reunir entradas que justifiquem o título, os prazos da edição ou outros impulsos.
Foi lapso, foi descuido, acredito eu, acreditarão todos que as omissões em obras sobre as duas matérias não envolvem irreverência, má vontade ou injúria. Não acredito eu que, por mera desinfecção do medíocre, tivessem corrido com aquilo que de mim foi publicado.
Já tenho idade para não me ressentir com estas coisas, mas também tenho idade para propor corrigir coisas destas, até porque o provérbio costuma dizer que cão velho, quando morde, dá conselho. As duas obras não deixam de ter a sua valia, já que devemos saber que uma excepção não contraria a regra, e o que lá está merece estar. Também não me amesquinham as omissões, a ponto de considerar que a minha obra não vale o que a gata enterra; todavia não me envaideceria a inclusão, porque se tivesse de sobreviver dessa  publicidade, mais  valeria deitar-me à sombra da cerejeira do quintal.
Por uma questão de caridade deontológica, não menciono as duas obras e os respectivos autores, se bem que as possua: a primeira, porque o editor ma ofereceu; a segunda, porque a adquiri muito recentemente ao autor sem saber o que lá vinha dentro. Sobretudo sem saber que eu, como cartunista, “não vinha” lá dentro. Arrumo as duas obras com o cuidado que proporciono a um feixe de lenha e com a mesma determinação com que os lusitanos depositavam os inválidos à beira das estradas.
À primeira “falha” disse nada, escrevi ainda menos. Somada esta, o provinciano que eu sou, saltou da cadeira. Acabou-se!
Igualmente, por uma questão de dignidade, como já fiz em relação a um dos co-autores da enciclopédia de Banda Desenhada, terei certamente ocasião de apontar a falha ao autor da enciclopédia de cartunes e cartunistas portugueses. E ficamos quites.

terça-feira, 1 de maio de 2018

JOSÉ DO TELHADO e Balonagem do JOÃO BRANDÃO


Estou a "lutar" em várias frentes, tudo relacionado com os bandoleiros e quadrilheiros do séc. XIX.
Para além do João Brandão, prossigo com o José do Telhado, os Marçais de Foz Côa, os Garranos do Caca, o Pires da Rua, o Remexido e até o Diogo Alves.
Com o João Brandão tentei recuperar os balões rectangulares em vez dos ovalóides... e parece não resultar. Como se vê acima, o balão oval e circular funciona melhor, embora seja de mais difícil arrumação. Daí ter nova proposta para o Brandão, como é disso exemplo  a vinheta seguinte, a qual, se comparada com a do post de ontem, tem novo aspecto. Quando se alteram estes pormenores, o desenho sofre sempre algumas alterações, de forma a preencher os espaços do encaixe.
Sem dúvida que se trata de um jogo de paciência e muito empenho.