sábado, 22 de abril de 2017

A VOLTA AO MUNDO (E À MINHA CABEÇA) EM 80 DIAS


Já aqui falei neste trabalho/lazer e volto a falar dele porque me têm chegado provas de incentivo para o continuar.
Para ser sincero - como costumo - é daqueles trabalhos inconcluídos que ficaria a aguardar um hipotético desejo de o concluir, a exemplo do que já aconteceu com outros. Não sei...
A Banda Desenhada, no meu entender, possui uma engrenagem equivalente à das antigas noras de tirar água. Para quê dar à manivela e à roda do poço, quando a água salta das torneiras a um simples toque? E, pior ainda, quando já há por aí tanta água engarrafada, engarrafonada, obliterada e não sei mais quantas terminologias idênticas?
Se acabar este trabalho, sei que terei de puxar pela bolsa sem ver retorno da espórtula; isto quer dizer que, para apenas vender meia dúzia de livros, além de me deixar indisposto, acabará por desmotivar outros empreendimentos editoriais. Para os oferecer a todos, ainda não acertei nos cinco números e nas duas estrelas para encher o cofre. Pensar em arranjar editor está fora de questão, porque não estou disposto a "pedinchar", tanto mais que, o meu feitio independente e pouco dado a negativas, deu em acabar com esse peditório. Para complicar ainda mais, tenho outros trabalhos editoriais a sair periodicamente e, até me enfastiar, penso prosseguir com os mesmos. Para finalizar o rol das justificações, pesa a proliferação desta obra editada em Banda Desenhada, quase toda ela com qualidade superior e mais oleada para chegar ao público leitor.
Logo, mal apanhe uma aberta e a vontade desperta, sou capaz de ir para a hipótese das ofertas, com uma tiragem equivalente à de uma sala de aulas.
Mas não foi por isto que volto ao assunto.
Este trabalho foi feito para me divertir e para experimentar a cor do "photoshop". Tinha a intenção de fazer tudo em 80 dias, na justificação da viagem de Mr. Fogg, sem planificação, sem cuidar de enquadramentos e sem me preocupar com o desenho e os seus pormenores. Arranjei um caderno escolar, desses de capa preta da "firmo", uma esferográfica azul (daí ter feito o scan a preto para reproduzir a imagem em cima) e retoquei com tinta a arte final. Desenhei para mim, pelo que sou autor e leitor de uma obra solitária, manca, instável e possivelmente sob condenação eterna do seu ilustre autor do texto, que muito admiro.


sexta-feira, 21 de abril de 2017

ENCICLOPÉDIA ALEGRE DE BRUXAS E SUPERSTIÇÕES - Letras Q-R

Q
QUEBRANTO. Na farsa Quem tem farelos?, de mestre Gil Vicente, a determinado passo encontra-se a excomunhão: “Má cainça que te coma/ mau quebranto te quebrante”.
Este anátema possui característica inversa à das feromonas – nem sequer faz despertar o apetite sexual. O “quebrantado” ficará, pois, num estado de letargia, abúlico, febril e definhado.
O quebranto age como um vírus, talvez com o poder de “o pai de todos os vírus”, só lhe faltando um nome em latim e referência em simpósio farmacológico para se tornar mais respeitável entre os seus pares. De qualquer forma, sempre é mais fácil de pronunciar que enterobius vermiculares, uns vermes no vulgo alcunhados de lombrigas.

R
REUNIÕES. Segundo consta, podem realizar-se em qualquer lado, mesmo em salas multifuncionais com ar condicionado, projectores de tela, tradução simultânea e acesso à internet. O mais provável é que se dispensem esses requisitos e ocorram numa laje granítica, previamente limpa de detritos de rebanho, junto a uma encruzilhada de caminhos onde não haja sinalização de trânsito.
Já o calendário pia mais fino e é imutável nos dias de presença, sem hipótese para ausências justificadas, às terças e sextas feiras. Tratam-se assuntos que são postos dentro e fora da ordem do dia, lançando os seus discursos de elevado teor conceptual, permitindo-se considerandos, requerimentos e propostas, desde que contenham matéria conclusiva sobre a arte de embruxar toda a coisa.
Não levem a mal, mas como ainda não assisti a nenhuma, não asseguro se tudo isso se passa como em outras assembleias desassombradas. Também não me consta que se lavrem actas, relatórios ou meras resenhas sobre os assuntos agendados.
Ah! Não sei se as votações são por maioria simples ou por unanimidade, de braço no ar ou língua de fora; e sei também que as únicas geringonças permitidas são as vassouras de transporte.
Como é da praxe, reunião antes, estômago depois. É neste particular e em outros fora deste âmbito: quando se trata de seminários e outros arraiais congéneres, umas roucas e outras afónicas, as bruxas empanturram-se de comidas pouco recomendáveis e indigestas, com alto teor calórico. Mas é uma opção que as livra da conta exagerada e das gorjetas nos restaurantes.

S
SÁBADO. Dia das reuniões – o “sabat” – em que reúnem as bruxas com o bode dos “cornos grandes”, que desempenha funções equivalentes às de presidente do conselho de administração, e que preside à cerimónia numa encruzilhada de caminhos e em redor de um espinheiro. Esmeram-se na forma indecorosa como se vestem para a ocasião, narram façanhas, fumam charutos Montecristo (furtados na secretária de algum ministro ou de um banqueiro), falam das vítimas passadas e futuras e apresentam ao amo as neófitas de quem serão madrinhas.
As noviças, que possuem perfis no Linkedin, iniciam-se por renegar a religião e a existência de Deus, enquanto as madrinhas são recompensadas com moedas de ouro e prata, que terão de ser gastas no prazo de 24 horas, numa casa de bingo ou num supermercado, sob pena de desaparecerem em fumo.
Goethe e Victor Hugo tentaram-se pela descrição sabática nas suas obras e o pintor Jeronimus Bosch, em “As Tentações de Santo Antão”, colocou na tela um casal de bruxos que vai até ao “sabat” montado num peixe, o que constitui substituição do uso da tradicional vassoura.
SANCHO PANÇA. É o martirizado e incompreendido companheiro de D. Quixote, autor da máxima que outros parafraseiam - não creio em bruxarias, mas que as há, há.
Farto de ver coisas estapafúrdias, das quais e não menos significativa era um amo desaparafusado do juízo, o gordo e desajeitado escudeiro só lhe faltava acreditar em bruxas. Aliás o Sancho Pança era um pobre diabo que tinha um fôlego épico para aturar tanto disparate junto. Mas tantas e tais as mirabolantes contradanças e alucinações em que o seu amo se meteu, que o coitado passou a crer na existência daquilo que não cria, mas que nós cremos que ele cria.
SAPATOS. Agora habituei-me aos pés e aos sapatos sem atacadores, como ténis e mocassins, os que apertam com velcro e sandálias. Sapatos com atacadores, só para cerimónias e calça vincada. Por essa razão não me preocupo com a superstição que diz ser aziago calçar um dos pares com um atacador castanho e o outro com atacador preto, pois o castanho simboliza a terra da sepultura e o preto a escuridão da morte.
Na passagem de um ano para o outro, há quem se dê ao cuidado de colocar uma nota (no caso, o euro, no mínimo uma nota de cinco) dentro de um dos sapatos (de preferência, o direito), porque atrai mais dinheiro, uma vez que se acredita que a energia e a abundância entram pelos pés.
A propósito, também traz bom augúrio saltar com o pé direito, sem se incomodar muito com os euros aí escondidos, porque mais pisados do que estão pela Europa fora, é impossível. Acautele-se com o cheiro dos pés, principalmente se pretende posteriormente trocar a nota.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

CONTOS DE AMOR E DRAMA - NOVOS VOLUMES


Depois da publicação dos 2 primeiros volumes, cada um com 206 páginas, tenho prontos para a gráfica os 3º e 4º volumes com 206 páginas.
A capa do 4º volume, para alertar os que menos atentos poderão estar aos meus post's, possui o desenho que eu inseri na contra capa do meu mais recente romance policial. A razão é simples: neste quarto volume está o conto que deu origem ao romance, com a mesma passagem que a capa ilustra.
Deste quarto volume reproduzo o prefácio.

PREFÁCIO

 Este é o quarto volume da série de contos que eu fui publicando ao longo do tempo, em revistas e em jornais, com alguns inéditos e outros retirados a obras que não cheguei a dar ao prelo.
Neste livro consta um conto de género policial – muitos preferem dizer policiário – que é um dos inéditos inicialmente proposto para um romance e que transformei num conto, que tem por título “Um Caso de Adultério”, amputando e corrigindo grande parte da ação.
O Conto “A Bandoleira” é baseado numa figura real, recolhida na imprensa da época e que eu decidi trazer aqui embrulhada em ficção.
A maioria dos contos continua a provir desse manancial que produzi durante mais de um decénio, a pretexto de novelas românticas, para uma revista feminina com certa regularidade, de tal forma que foram publicados 138 contos ou histórias de amor, em outros tantos números daquela revista, então uma das de maior tiragem no País, com uns invulgares 400.000 exemplares de tiragem, em média, por semana. Acontece que, a este volume, resolvi trazer o primeiro com que encetei essa colaboração, em dezembro de 1990 e a que dei o título de “Aconteceu no Egito”.
“A Bruxa” faz parte de um original inacabado, que pretendi dedicar a uma figura lendária: o João Tição da Fonseca, guerreiro português do séc. XII, enquanto “O Crime de Ana das Dores” foi um capítulo que resolvi expurgar ao meu livro publicado com o título “O Padre Costa de Trancoso”, que vai na 5ª edição.
Hão de reparar que há oito contos que têm como protagonista um narrador na primeira pessoa. Isso não quer significar que seja eu, autor, a narrar factos da minha vida ou que tivessem acontecido comigo, nem que esse “eu” respeite a uma única personagem que se repete nessas oito narrativas. No entanto, dizer que eu, o autor, não se identifica com aquele ou aqueloutro personagem, é extirpar de mim aquilo que eu sou, quer na ousadia, nas circunstâncias e na liberdade que eu fruo no dia a dia como cidadão e como pessoa.
Já escrevi romances, ensaios, monografias, estudos históricos e regionalistas, mas nenhum me deu e dá tanta amplitude criativa como este género de literatura que agora vos apresento. Trago para o palco da obra muitas dezenas de personagens que se ficam pelo compartimento do título onde gravitam, mas dou-lhes a liberdade de questionarem o autor: ou porque as destrato; ou porque evidencio os seus defeitos; ainda porque as faço sofrer (o que também me dói); finalmente porque coloco um fim inesperado, imprevisto e, quiçá ainda, em contrassenso. Há ainda a considerar que, no conjunto dos volumes publicados e a publicar, percorro todos os continentes da Terra, incluindo os oceanos, com povos e costumes, sítios e gastronomia de cada uma das regiões, o que me levou a uma constante busca em revistas especializadas para colher dados que, de outro modo não teria, uma vez que, ao contrário das minhas personagens, nunca lá pus os pés.
Apesar de num ou noutro caso ter como “chave” ou “semente” da ação algumas situações reais e figuras que as desempenharam, tive o cuidado de alterar o que me deu na real gana modificar, de sorte que em nenhum deles pode existir cotejo com eventuais situações ou pessoas reais.
Repito ainda o que disse nos anteriores três prefácios. Para esta recolha, optei eu próprio por ilustrar todos os contos, desenhando os pórticos um por um com base no escrito e na ação. O mesmo fiz com a capa, naturalmente ilustrada com a imagem de pórtico de um dos trabalhos, escolhida e colorida aleatoriamente.
                                                                                                                                         Santos Costa

segunda-feira, 10 de abril de 2017

O MAGRIÇO EM A4 - 1º VOLUME


Pois é. Tanto andei, tanto andei, que acabei por publicar As Aventuras do Magriço em A4. Os exemplares chegam amanhã, vindos da gráfica, e respeitam ao primeiro de quatro volumes já concluídos. A saga, no entanto, correrá por mais volumes, logo que vá registando consoante a disposição e o engenho.



As capas - que já estão feitas para os ditos quatro volumes - vão ser de cores diferentes quanto ao fundo e às imagens.
Em cima, uma das poucas páginas com uma só vinheta; a seguir, a capa e a contracapa; em baixo, uma página deste volume.
A impressão foi feita sobre papel de 120 gramas, o que torna o álbum mais consistente.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

ENCICLOPÉDIA ALEGRE DE BRUXAS E SUPERSTIÇÕES - letras O e P

O
OBJECTOS. Aconselham a que nenhum objecto partido deve ser mantido em casa, na passagem de ano; eu diria mais, tudo o que tresande a partidos. Se tiver por lá uma geringonça, rua com ela!
Deve deitar fora todas as más recordações impressas, como as fotografias dos ditadores e quejandos – possivelmente trará bom augúrio para si e para o País.
Tendo em conta esta tradição, já esteve mais longe a ideia dos municípios aumentarem a taxa sobre a gestão de resíduos sólidos urbanos, bem como a taxa de protecção civil, a da conservação dos esgotos e uma outra, a criar, sobre mobiliário do ano velho fora de casa.
ORAÇÕES. De barato seguem algumas orações indispensáveis ao espantar das abominações.
Uma delas, dita ao deitar, faz com que as bruxas não se metam com o dorminhoco, o mesmo que é dizer, numa linguagem mais pueril, que se intrometam entre quem dorme e o João Pestana. E reza assim: “Oca, marnoca,/ três vezes oca;/ pé no pé, freio na boca;/ trista com trista,/três vezes trista,/ S. Pedro e S. Paulo/ e S. João Evangelista/ao redor da minha casa assista”.
Esta outra é digna de memorização: “Eu me apego a S. Silvestre/ e à camisa que ele veste,/ e ao círio pascal,/ e às três missas do Natal,/ para que nem homem nem mulher, me possam fazer mal”.
Para a colecção, mais esta: “S. Pedro, S. Paulo e S. João Evangelista/ em redor da minha casa assista;/ se alguma bruxa, feiticeira ou melgueira comigo quiser entrar,/ conte primeiro as areias do mar”.
Lá vai a última, pois o que já foi dito equivale a uma consulta com preçário muito superior ao valor da sua sobretaxa de IRS. Assim, para fazer fugir uma bruxa que se reconheça, deverá dizer-se: “Tu és ferro,/ eu sou aço,/ tu és o diabo/ e eu te embaço”.
Se julgam que isto é uma falácia, saída do bestunto deste “enciclopedista” desnorteado, experimentem ouvir uma avisada aldeã (das poucas que resistem), no exorcismo de berço de uma criança que abra a boca num bocejo: “Anjo bento, o Espírito Santo te entre pela boquinha adentro”.
Mais tarde, a mesma criança, agora já homem no Parlamento, poderá ouvir da mesma aldeã: “(marm)anjo de S. Bento, um moscardo te entre pela bocarra adentro!”.

P
PENEIRAS. São crivos para peneirar farinha ou qualquer outra substância a refinar, mas também servem como passagem de testemunho no âmbito deste enlevo do oculto.
Eu explico: quando alguém, tido com poderes de bruxaria, estiver para morrer, só finará quando lhe entregarem uma peneira; a pessoa que faz a entrega ficará com os poderes de bruxaria transmitidos pela moribunda. Esta passagem é conhecida como entrega dos “novelos do mal”       .
A principal questão – e eu coloco-a antes que me façam essa pergunta – é saber se, à falta da passagem de testemunho, a bruxa não se arrisca a ter uma vida perpétua. Digo isto porque vai ficando escasso o fabrico de peneiras. No entanto, se lerem o parágrafo seguinte (que o legislador introduziu para prevenir estas casualidades), ficarão com a resposta.
Parágrafo único – à falta de peneira, o contacto simultâneo de ambas as mãos supre a ausência do adereço.
PORTAS. Entradas pouco utilizadas pelas bruxas – e pelo Pai Natal, acrescente-se também – uma vez que preferem a forma bizarra da entrada pelos telhados e pelos buracos das fechaduras.
Suponho que também entrem pelas chamadas “portas do cavalo”, umas entradas que geralmente têm um letreiro a avisar que é para uso exclusivo do pessoal ao serviço, mas por onde entram os amigos sem senha de atendimento.
Quem não tem certezas, bem fará em ganhá-las. As bruxas entram por todo o lado, com portas ou sem elas. Com a mesma facilidade, com ou sem portas, também entram na política. Cruzes, credo!

segunda-feira, 3 de abril de 2017

A LUZ AO FUNDO DO TÚNEL


Esta caricatura foi "pescada" nos meus arquivos. Foi publicada, em seu tempo, no semanário "O Diabo" e foi propositadamente feita aquando da polémica com o túnel do Marquês, cujas obras estavam a ser embargadas. Falar do túnel do marquês, sem o marquês!...
Desenhei quase tudo o que era político nesse tempo. Fazia os desenhos da parte da tarde dos domingos e enviava-os, a tempo do fecho da edição, às segundas-feiras.

domingo, 2 de abril de 2017

A BD ABRANGENTE


A Banda Desenhada  é abrangente em todos os ramos da cultura e do divertimento, tal como acontece com a literatura e o cinema, uma vez que envolve as características destes dois. Permite recuar no tempo e fardar os intervenientes sem recorrer aos custos de um guarda-roupa; consegue registar a imagem de um "acidente" sem  que seja necessário o recurso a um duplo ou "stunt" (lutas, atropelamentos ou quedas, tudo); regista, como sequência, sem que seja necessário recuar na imagem e fixa-a na retina do observador pelo tempo que este deseja.
O caso das lendas é paradigmático. Como são histórias curtas - e, até por vezes, mirabolantes - a BD pode adaptá-las ao gosto do autor/realizador e passar, através das imagens, a mensagem lúdica contida no texto e oralidade tradicionais.


As duas páginas que aqui coloco respeitam a duas das catorze lendas do concelho de Aguiar da Beira, sendo que ambas foram recolhidas por mim no registo oral, o que quer dizer que se encontravam inéditas, até eu e um outro companheiro - o João Portugal - publicarmos a primeira monografia daquele concelho, seguindo-se uma segunda monografia, deste vez a solo, elaborada e acrescentada por mim cerca de duas décadas depois.