quarta-feira, 11 de outubro de 2017

THE AFRICAN QUEEN (2)


Já vários amigos meus e companheiros da blogosfera têm incentivado a continuidade e a sequente finalização da BD "A Rainha Africana" (no original da película THE AFRICAN QUEEN), que aqui trouxe em postagem de 10 de Julho do ano corrente.
É certo que comecei a fazer este trabalho sem pretensões especiais de publicação, porquanto uma grande dúvida se prende com o facto de a mesma estar imbuída de uma característica de pastiche ou decalque através dos fotogramas do filme. É certo que se trata do desenho baseado na fotografia de instantâneos (sequência dos fotogramas que animam o cinema), nem sempre representando os pormenores acessórios dos fotogramas e permitindo-me a liberdade dos desenhos, como será fácil cotejar com uns e outros.
Não recorri à técnica de colorir as imagens dos fotogramas ou de as transformar em desenhos a colorir (coisa que também não sei fazer, embora haja ferramentas digitais para isso), mas antes desenhei a preto os pormenores principais para os colorir depois; ou seja, desenhei cada um dos fotogramas no enquadramento semelhante à imagem que passa na tela (como se pode ver a seguir).
Se pretendesse publicar e distribuir este trabalho, teria de ser esclarecido sobre alguns pormenores, nem todos dependentes do meu arbítrio, e que são:
1º- Até que ponto estou autorizado a transpor para desenho uma obra alheia (de um estúdio, de uma realização,etc.)?
2º- Mesmo sendo o texto da minha autoria, sem consulta do guião original, quase todo em didascália, não é baseado num argumento escrito?
3º- Sendo esta minha ideia uma forma de resumir o filme, à guisa de sinopse escrita e desenhada, não é ela sujeita aos códigos deontológicos e legais de autoria?
4º- Mesmo que as imagens não correspondessem aos fotogramas, não seriam tomadas, mesmo assim, como decalque de uma obra já executada, ainda que esta tivesse outra forma de exibição pública?
Poderei concluir o trabalho, para meu deleite, uma vez que sou fã deste filme e dos seus dois principais protagonistas. Nesse caso, estarei livre para o fazer, dando por barato divulgá-lo por esta forma e estar ciente de que o faço sem ferir quaisquer das questões colocadas acima, dado que as imagens a exigir são as do anterior post e deste, mais nada.
Como já tive oportunidade de dizer ao meu amigo Luiz Beira (blog BDBD), não piso a linha vermelha dos direitos autorais de ninguém, ao mesmo tempo que tenho a liberdade de dispor dos meus para terceiros, graciosamente, por opção própria. É certo que esta obra é toda executada, de fio a pavio, por mim, mas não é a base da minha autoria (é como se eu estivesse a cozer um pão no forno com massa, água e fermento de outrem).
Finalmente, a somar a todas as dúvidas legais retro explanadas, há ainda uma interrogação que me coloco:
§ respeitar os fotogramas no seu enquadramento, dando-lhe o aspecto da película no écran, ou partir os enquadramentos para lhes colocar os diálogos?
É esta justificação que trago à barra: quid juris?

7 comentários:

  1. Caro Amigo Santos Costa,
    Parece-me, em abono da verdade, que neste caso está a ser "mais papista do que o Papa". Mesmo utilizando imagens extraídas por decalque dos fotogramas da película, o seu trabalho não deixa por isso de ser original, porque o seu traço sintético, mas eficaz (a sua "marca de autor"), está todo lá plasmado.
    A questão dos enquadramentos não me parece importante, porquanto é um pormenor técnico que não infringe, a meu ver, nenhuns “códigos deontológicos ou legais”, respeitando a essência do filme (aliás, produzido já há muitas décadas).
    Por outro lado, quantos autores de BD (e alguns bastante famosos) não recorreram ao mesmo processo nalgumas das suas obras, nomeadamente em períodos de maior experimentação, como durante o "boom" dos anos 1970? E até colagens fizeram de forma sistemática, em "sinal" de modernidade, sem que ninguém os reprovasse ou desvalorizasse as suas obras e o seu método conceptual e artístico, devido a tão insignificante pormenor, o de utilizarem imagens reais misturadas com as vinhetas.
    Acredito que não seja fácil encontrar um editor para uma obra deste género, baseada num filme tão antigo, que a maioria dos cinéfilos e bedéfilos actuais certamente desconhece... mas a questão dos direitos de autor ou da forma de abordar a obra, segundo critérios artísticos que em nada a desvirtuam, antes pelo contrário, não me parece o cerne do problema, atendendo, entre outras razões, à longevidade do filme e à liberdade que qualquer autor tem de se inspirar numa obra alheia. Grave seria, isso sim, se pretendesse, depois da obra feita, apresentá-la como um trabalho sem rótulos, escamoteando a sua origem. Quantos filmes, aliás, não foram já adaptados à BD, com maior ou menor talento e arte, sobretudo a partir dos anos 1950? Até autores portugueses o fizeram...
    Posto isto, não leve a mal este arrazoado, pensando que quero forçá-lo, com a minha insistência, a pegar num trabalho voluntariamente interrompido, pois essa decisão só lhe cabe a si. Se continuar com as mesmas dúvidas, quem perde serão os leitores, a começar pelos que têm uma devoção especial por este filme e pelos seus principais intérpretes. Claro que já não são muitos... mas como diz o velho ditado, mais vale poucos e bons!
    A finalizar, repare que nenhum dos considerandos agora invocados o impediu de adaptar obras do Aquilino Ribeiro e de publicar esses trabalhos numa revista, à época, de grande tiragem e expansão no seu meio. É ou não verdade?
    Um abraço, com muita amizade, do
    Jorge Magalhães

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  2. Caríssimo Amigo Jorge Magalhães

    Este seu comentário, que muito lhe agradeço e acumula na dívida que tenho para consigo, vem dar novo alento ao projecto. Sim, este seu comentário provoca em mim, propenso que sou à emotividade, um novo alento e desbloqueia as contingências que surgiram em face das dúvidas expostas, para além de incentivar um trabalho que, com o correr do tempo, iria deixar esquecido entre outros trastes enfadonhos e talvez arcaicos.
    Se é certo que não lhe deitaria o fogo, porque é daquelas obras que não executei em papel, acabaria por consumir-se nas cinzas do esquecimento para, muito provavelmente, sem me dar conta, “deletar” (passe o anglicismo) o ficheiro para todo o sempre.
    A troca de ideias e a interlocução através deste meio, estendidas como forma de comunicação através das caixas de comentário (por isso mesmo abertas a todos os que intervêm e aos que lêem com a possibilidade de também intervirem), infelizmente pouco utilizada em blogs de Banda Desenhada, só beneficiam os autores, os amantes devotos e os curiosos desta disciplina cultural, que eu não tenho pejo em designar como Arte.
    É certo que comecei a publicar, graças a si, como editor de uma revista de referência nacional (saudosa publicação), através de uma breve adaptação de um capítulo de uma obra de Aquilino. Curiosamente, por essa altura, não me surgiram as dúvidas que agora me assaltaram, tão ou mais pertinentes por a referida adaptação respeitar a uma autoria com direitos tempestivos sob reserva. Talvez com a idade, o pleito na consciência de autor que pretende respeitar o labor de outros autores, me condicione e apele ao que em mim há de atávico no arrojo.
    Poder-se-ia dar o caso de a consciência, que se enquadra na penumbra dos pensamentos e das decisões, ter procurado, no meu caso, uma justificação para suster o trabalho; justificação essa que limitaria e encobriria o receio de a obra não poder sair a público por outras razões, mormente editoriais e de escoamento do produto. Creio que não foi essa a circunstância do subconsciente.
    Sinceramente lhe agradeço – e não será de mais repeti-lo – este seu esclarecimento, que é mais uma alavanca para continuar o trabalho, sem que, na hipótese de insucesso, seja beliscado, em sentido negativo, este seu apoio e incentivo.
    (segue na caixa seguinte, graças ao fôlego possível da blogspot)

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  3. Aproveito para reforçar a opinião expressa no segundo parágrafo deste meu comentário. Há, de facto, um “deficit” de comunicação escrita entre os utilizadores destes nossos meios de comunicação, de que não estou livre de me assacarem culpas. Por vezes, sem que isto constitua desmotivação, parece que estamos a escrever “para o boneco” e não a escrever sobre “bonecos”. A contagem do blogger diz que há acessos e esses não permitem esmorecimentos.
    O comentário tanto pressupõe a crítica como o louvor, a participação activa de esclarecimento e na colocação de dúvidas e, de certo modo, contribui para mais conhecimento relativamente à matéria tratada. Não será, como no famigerado “facebook”, lugar para “bons dias” e “gostos”, ainda que estes não sejam limitados a quem quer que seja. Ao que sei, os bloguistas que predispõem esta abertura à comunidade, o fazem com ampla liberdade dos comentadores e não creio que, em qualquer caso, tenham recorrido a cortes de censura. Para além disso, como sentinela de plantão, há aquela condicionante de entrada, à guisa de “santo e senha” a provar que o que digita o arrazoado não é um “robot” com o enervante “spam” às costas.
    Por vezes um comentário feito com conhecimento e isenção – como é o do Jorge – serve de esclarecimento e, através deste, de incentivo; tantas vezes uma chamada de atenção para pormenores, determinam correcções necessárias e pertinentes; mais frequentemente um aplauso, ou até uma crítica sincera, tornam possíveis incentivos aos trabalhos ou rectificações que beneficiam os autores; e muitas vezes um rebate num comentário torna possível ao autor do post mais esclarecimentos e complementaridade do assunto em foco.
    Digo e repito: tenho refreado esta vertente sociável e de fraternidade, não só porque vi esmorecer esta comparticipação (porventura – melhor dito, por desventura - de alguma animosidade que li nos comentários em alguns blogs há algum tempo atrás), como por temer ser tido como um “outsider” chato e sedento de protagonismo. Sofro daquele espírito de contenção, quando o impulso é colaborar, intervir.
    Torna-se evidente que tanto o comentário do Jorge como este meu, apesar do limite dos 4.096 caracteres do servidor, pela sua congruência, são superiores, esclarecedores e mais convenientes do que a postagem que origina esta caixa de comentários.
    Enfim, ninguém é obrigado a falar ou escrever quando prefere reservar o silêncio da voz e da palavra escrita! Foi um desabafo…


    Receba de mim, extensivo à Catherine,
    um grande abraço de Amizade

    Santos Costa

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  4. Bom.... creio que sabe que o próprio filme é baseado no livro "A Rainha Africana" de C.S.Forrester, não?

    https://www.wook.pt/livro/rainha-africana-c-s-forester/64412

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  5. Caro pco

    Numa resposta a um comentário seu, com data de 25 de setembro neste blog, ficou esclarecido que conheço o livro e a autoria do livro, uma vez que lhe respondi assim:
    "Infelizmente, ainda não li o livro de Cecil Scott Forester, o qual estará nas minhas intenções logo que possível."
    Não ter lido o livro, em português, não significa que o desconheça.
    Tenho feito a tradução do inglês através da película, o que não é nada fácil, porque o som nem sempre ajuda. Ultimamente recorri a uma versão inglesa, através de um download da net, para cotejar os diálogos (porque só me interessam os diálogos) do filme com o texto do escritor.
    De qualquer forma, agradeço-lhe o aviso.
    A minha questão era: até que ponto, apesar de utilizar outra linguagem, era lícito usar dos direitos que a mesma proporciona ao original?

    Cumprimentos

    Santos Costa

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  6. Peço desculpa se houve algum cruzamento de conversas - nem sempre venho ao blog e não me lembro de já ter comentado relativamente ao livro.

    Em termos da questão dos "direitos": O livro é de 1935 e o filme é de 1951, são duas obras diferentes entre si, têm países de origem também diferentes e são também diferentes da obra que agora está a ser feita.

    Faço eu agora uma "pergunta" - Sendo meios diferentes (Livro em prosa, Filme e BD), qual na verdade será a "Obra Original"?

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    Respostas
    1. Caro pco

      Agradeço-lhe o seu esclarecimento e concordo consigo.
      O livro e o filme são diferentes, os países de origem também, assim como é diferente dos dois a origem deste meu trabalho.
      Relativamente ao último parágrafo do seu comentário, parece-me que toas as obras são originais - livro, filme e BD - assentes em meios de difusão diferentes entre si. No entanto, o filme recorreu a um argumento já escrito e terá pago os seus direitos (julgo eu), apesar de ter sido reescrito todo o argumento.
      No meu caso - e é esse que me interessa - recorro aos dois, embora transformando a imagem fílmica em imagem desenhada e a obra literária em adaptação às vinhetas da BD.
      No caso das imagens, mormente nos enquadramentos, procuro dar um cunho pessoal, às vezes até estilizado, repartindo-a para uma sequência que nada tem a ver com a tela de cinema. No caso do texto, eu próprio o trabalho à minha maneira, traduzindo da película o idioma americano e confrontando-o com o original literário inglês, que não possuo, mas encontrei aqui

      https://archive.org/stream/in.ernet.dli.2015.201179/2015.201179.The-African#page/n11/mode/2up

      Há uma versão portuguesa, que penso adquirir - Livros de Bolso Europa-América - para simplesmente cotejar traduções.

      Enfim, procuro servir-me de um argumento do livro e de uma filme para dar um cunho pessoal ao enredo, com registo aproximado das figuras e das tomadas de vista do segundo. Longe de mim querer ferir direitos de autoria de quem quer que seja.

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