Quem ler o post anterior, ficará com a ideia que esta capa é do segundo volume da enciclopédia dita - errado; poderá dizer que eu alterei a montagem - certo.
Estou numa fase frenética. Ora desenho (BD), ora digito texto com apenas os dedos indicadores das duas mãos, ainda investigação vária, comer e dormir, com outras propostas de permeio.
Hoje trago aqui, para além da nova capa (projecto), quatro entradas extraídas da obra supra, escolhidas ao acaso. Não reparem nos pormenores de pontuação, pois a revisão é a última (e custosa) coisa que faço.
ADIVINHAÇÃO.
Segundo a conceituadíssima Wikipédia,
o termo engloba tudo menos os números do euromilhões, o que significa “profecia,
previsão, intuição, palpite, pressentimento”, pois é “o acto ou esforço de
predizer coisas distantes no tempo e no espaço, especialmente o resultado
incerto das actividades humanas”.
A adivinhação não deixa de ser uma arte, neste caso
mágica, de descobrir o desconhecido através da interpretação de símbolos, como
é a “leitura” de nuvens, cartas de tarô, chamas e fumo, ossos de animais e cartazes
de autarcas municipais.
Quer isto dizer que as bruxas adivinham? É claro que
adivinham, pois têm a equivalência aos cursos técnicos profissionais e
profissionalizantes de astrologia, cartomancia, quiromancia, taromancia,
hepatoscopia, I Ching e numerologia, para só citar estes. Parece que elas possuem,
em doses maciças, os poderes sibilinos de Nostradamus, de Bandarra, mesmo do
Pretinho do Japão, e das previsões económicas do Banco de Portugal.
Numa sondagem que se realize, como é hábito, através de
entrevistas telefónicas em escolha aleatória, dará 10 por cento para os que
acreditam no acertar dos resultados de adivinhação das bruxas e outros 10 por
cento para quem creia no inverso. É bom que se diga que a diferença estará para
quem não sabe/nem responde ao inquérito, que por meu lado adivinho com um erro
máximo de amostra de 0,6 por cento para um grau de probabilidade de 99,9 por
cento.
ANTÍDOTOS. Parece mentira, mas um rosário de alhos parece ser
eficaz como antídoto contra os malefícios da bruxaria. Também se julga com
idêntico êxito um ramo de alecrim e arruda, uma tesoura aberta, um chinelo
velho ou uma meia calçada do avesso. Quem quiser complicar a receita, poderá
juntar num saquinho algumas pitadas de rudo macho, espargo, mirra e mostarda.
Simplificará se o conteúdo passar apenas com umas pedras de sal.
Com toda a humildade, não asseguro a eficácia. Uma
ferradura atrás da porta, na grelha do automóvel ou na barra cama, parece ser o
antídoto indicado para afugentar o bruxedo e quem o pratica, mas poderá
fazer-se uma figa com os dedos indicador e médio à falta de um adereço mais
apreciável, que é o signo-saimão (signo-salomão). Deixo um aviso, caso queiram
servir-se dos dedos da mão: nada de esticar o médio e encolher ao mesmo tempo o
indicador e o anelar.
Não encontrei qualquer referência alusiva à eficácia
se a sogra estiver por perto. A sogra ou um fiscal das finanças, bem entendido.
CALDEIRÃO. Um dos símbolos da actividade, geralmente com água a
ferver, onde se juntam alguns corantes para dar efeito, bem como ervas e fauna
rasteira vária, tais como asas de morcego, rabo de escorpião e sémen de
unicórnio. No entanto, trata-se de um instrumento mágico tão importante como é o
estetoscópio médico para um clínico que mostre estar em serviço. Representa o
ventre da deusa e o útero feminino. O seu tamanho deve ser um pouco menor que
uma das panelas do restaurante El Celler de Can Roca.
Decerto não confundir este caldeirão com o da lenda
que atribuiu o seu enchimento de ouro através do arco-íris, porque se fosse
real já teria na periferia os auditores da Goldman Sachs, os mercados bolsistas
e outras organizações sem fins lucrativos.
IDENTIFICAÇÃO. Apesar de a Inquisição ter dado baixa da actividade
há muito tempo, o certo é que as bruxas continuam a viver numa quase
clandestinidade. Para as reconhecer, caso alguma delas entre na casa de alguém
– e a dona ou o dono da casa quiserem ter a certeza de que a visita pertence à
estirpe - deverá esconder uma vassoura atrás da porta, virada ao contrário. A
bruxa não conseguirá sair.
O mesmo efeito parece obter a pataqueira versão de um
banco virado de pernas para o ar.
Com a mesma eficácia, uma navalha espetada na sombra
da bruxa, fará com que esta fique tão imóvel como a estátua do Marquês de
Pombal na sua rotunda.
Em tempos idos, para se determinar se uma mulher era
ou não bruxa, atava-se de pés e mãos e deitava-se num lago de águas fundas: se
mergulhasse, era bruxa; se flutuasse, não era. É claro que nem me vou dar ao
despropósito de insultar a inteligência dos leitores ao dizer para que lado
pendia a percentagem do sim e do não.
Quando virem uma amazona montada ao contrário… pimba! É
bruxa. E se encontrarem numa encruzilhada uma porca com leitões de cor escura,
aí vai uma bruxa disfarçada. Convém, neste caso, não a confundir com a “porca”
da política, reconhecida já pelo extinto Rafael Bordalo Pinheiro e disfarçada
com outros adereços mais subtis, designadamente os leitões que a seguem, sempre
ávidos da teta e malas Louis Vitton.
Na heráldica, nada se encontra sobre bruxas. Nada
mesmo. Se houvesse, talvez estivesse assim esculpido em brasão: escudo lavrado
em campo de preto e esquartelado de caveiras com a dentição completa, sapos ou
outros motivos atinentes, tudo em campo polvilhado com pós de perlimpimpim. Em
chefe, uma vassoura ou uma varinha mágica (sem ser das de passar o cozinhado),
consoante a casta.
De qualquer forma, sem menção do registo da actividade,
não consta que a profissão das ditas possa vir a constar no Código das
Actividades Económicas ou na lista das profissões liberais anexa ao código do
IRS. Logo, sem cartão profissional, sem descontos para a Caixa de Previdência, sem
impostos retidos na fonte e outras alcavalas que levariam mais de cinquenta por
cento dos seus rendimentos mensais. Poderão descontar por outros “hobbies” que
tenham em concomitância, como será alguma colocação em organismo público ou
privado.
Como é de direito, será certo que terão bilhete de identidade
ou cartão de cidadão, cartão de crédito, cartão do “Continente” e número de
contribuinte. Mas isso toda a gente tem!
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