sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

COLORIR SOBRE PAPEL


Nas idas e vindas que efectuo ao arquivo onde guardo os trabalhos, o qual, tal como o meu escritório, se encontra no rés-do-chão da minha moradia, encontrei esta prancha, que mais não é do que uma adaptação que, há dois anos, fiz de uma Bd por mim publicada em "O Crime", sobre a vida aventurosa de Maria Feliz, chefe de um bando de assaltantes (mas não assassinos), que eu ficcionei de maneira a emprestar-lhe algum humor.
Para os mais atentos, lembro que estas imagens já surgiram neste blogue, com outros enquadramentos e formato, para além de coloridas em "photoshop".

Ora, é aqui que eu quero chegar. Esta ilustração que acima surge, não está - como soe dizer-se - editada e composta em computador, a não ser o scanner e o lettering. São três vinhetas, sendo a inferior, a maior, aquela que foi colorida com aguarela, a pincel; a primeira ainda levou uns retoques da tinta e por aí se ficou a prancha.
A determinada fase dos meus trabalhos como colorista com água e tinta (aguarela e guache) exercitei fazê-lo em papel encorpado, com alta gramagem, sobre mancha a preto impresa em impressora laser. O preto mantém-se e a tinta do original fica nele, sem nos causar problemas em esborratar.
Entendo que devo falar das minhas experiências na "técnica" que emprego nos meus trabalhos, pois tal disponibilidade pode servir para quem inicie ou necessite de esclarecimentos atinentes. Deixo a ressalva que, por outro lado, estas explicações possam avisar os mesmos iniciantes para ficarem a saber como "não se deve fazer".
Infelizmente para mim, nunca tive aulas de desenho, a não ser aquelas obrigatórias no liceu, onde aprendi pouco, que pouco me serve. Há, pois, muito diletantismo, experiência, tentativa de acerto e erro, ou vice versa, e é com franqueza que explico esta minha fraqueza.

4 comentários:

  1. Viva, boa tarde.
    Acompanho já há algum tempo o seu blogue e reconheci o seu traço ao lembrar-me duma aventura que publicou no MA talvez na década de oitenta, passada no deserto.
    Apaixonado por HQ (Camaradas, Cavaleiros Andantes, Zorros, Fagulhas, Mundo de Aventuras, etc) tudo foi posto de parte por aquele conceito parvo de que é "preciso ganhar a vida". E isso levou-me a... técnico oficial de contas! Aquelas colecções foram impiedosamente destruídas durante o tempo que estive em Angola (69-71) ao "serviço duma pátria" que nunca entendi bem. Agora, mais perto dos 70 do que dos 60, a paixão por HQ voltou em força. Então, autodidacta, mesmo tentando "fazer mão" (como dizia ETC), tento aprender coisas para tentar fazer "bonecos". Era aqui que queria chegar e dar-lhe um "bem haja" pelas coisas que vai ensinando: não sabia que podia ser colorido com lápis de cor como explicou sobre "a bandoleira feliz"; ou esta última de pintar directamente no papel... bem haja. Luciano Mendes - Leiria

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  2. Viva, Luciano
    Agradeço-lhe a sua visita e o seu interesse, tanto mais que desafrontadamente diz estar mais perto dos setenta do que dos sessenta. Como eu. Enfim, sou da colheita de 51, como costumo dizer nascido no primeiro ano da segunda metade do século XX e no dia de S. Valentim.
    Quanto à aprendizagem, todos somos alunos e todos somos mestres, desde que tenhamos sempre presente que amar uma arte é experimentá-la, persistentemente, pois o engenho vai conforme o rifão popular: "usa e serás mestre".
    Relativamente às técnicas manuais (quero dizer, às mais antigas do papel, do lápis e dos apetrechos de colorir, desde as aguarelas às ecolines), supostamente postas de lado por quem utilize as mais avançadas técnicas digitais, há uma gama de formas e fórmulas que se podem introduzir num trabalho. Como exemplo, dou este, uma vez que reparou no uso do lápis de cor: resulta ainda melhor, quando o produto onde se aplica a pintura com esse lápis de cor (ou até o lápis de cera), passa posteriormente por uma fotocopiadora a laser, a cores, uma vez que aí fixa, conforme o gosto do autor, a cor com mais ou menos "brilho".
    Com o lápis de cor não é fácil conseguir um trabalho aprimorado, porque as cores tendem a ser monolíticas, ou seja, não admitem, como na aguarela, uma mistura homogénea - se passar um amarelo e um azul, o verde que sai desses dois lápis de cor não ganha a tonalidade como se o fizesse com a aguarela, onde pode acresentar mais de um do que de outro, para obter um espectro de verde mais alargado. É que uma vez passado um lápis, ao passar outro por cima, este escorrega e não é assimilado pelo que se passou antes - não há propriamente uma mistura.
    Isto não pretende ser uma aula, porque não sou professor. Tal como o Luciano, sou um diletante, um experimentador e, para sempre, um aluno sempre atento às voz dos mestres e dos meus condiscípulos.
    Pronto para trocar consigo impressões, disponha...
    Um abraço

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    1. Viva, bom dia
      Obrigado pela sua resposta. E avançando um pouco mais nas apresentações: nasci num dos anos de ouro do Mosquito - 1947. Em Novembro, 23; em Lisboa, para mal dos meus pecados. Tive a sorte de me levarem muito pequeno para uma aldeia do concelho de Oliveira dos Hospital. Foi lá que parti a cornadura a andar aos ninhos, que joguei à bola "acaba aos 10 muda aos 5", que joguei o pião, a bilharda, etc. Ter umas tabuinhas de caixote de sabão para fazer camionetas, era um tesouro. E uma caixa de madeira onde vinha a marmelada? Era mesmo à medida para ser a carroçaria duma camioneta! E pregos, mesmo tortos? Eram um autentico tesouro. Quase moeda de troca! Agora os netos têm maquinetas xpto. Mas são incapazes de fazer um brinquedo. Sou eu que estou desactualizado, paciência!
      Fiz umas tentativas com canetas pincel, mas a cor passa para o verso do papel. Deve ser necessário um papel próprio. Fiz também com lápis de aguarelar mas o papel fica ligeiramente "enrugado" com a humidade. Já me lembrei de fazer os bonecos apenas com lápis de grafite (é assim que tenho um pouco mais de segurança) e depois "fixar" e colorir no fim. Mas pronto: continuo a ter de cumprir toda esta treta fiscal (com as pessoas a buzinar aos ouvidos por causa do pagamento por conta do IRC - "chulos, são uma cambada de chulos" e estas "aventuras das HQ são mesmo só para serões e algumas horas vagas. Enquanto o tempo de validade não se acaba.

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  3. Boa tarde, Luciano

    Somos dois nascidos na capital - eu, na Alfredo da Costa, como muitos outros.
    Ser TOC não é tarefa fácil, porque se está no centro, entre os clentes e o fisco, por vezes, como me apetece parafrasear Albuquerque, "mal com os clientes por mor do fisco, mal com o fisco por mor dos clientes".
    Sobre a arte que é um complemento e escape dessa árida tarefa, não desista. Não se incomode com o facto da idade, as críticas dos que possam ver os trabalhos, os resultados, porque é a Sua arte.
    Sobre a aguarela, como já disse, deixa o papel ondulado, mas com o tempo e a secagem, com um peso regular por cima, ficará direita a prancha. A aguarela requer um papel próprio (não utilize o enrugado, próprio para pintura aguarelada), encorpado, à venda em casas da especialidade ou bem apetrechadas. Se não tiver, aproveite mesmo o papel "cavalinho", de boa gramagem.
    Pode colorir directamente sobre o lápis, deixar assim a secar e fixar o negro por cima; ou pode colorir no verso da folha, necessitando de uma mesa iluminada; ou ainda, colorir à parte, como se fazia há uns anos, ainda com o recurso a uma mesa iluminada, deixando o acerto da cor e do p/b para a gráfica.
    Insisto num ponto. Se levar a folha da arte final a negro ao scanner de laser, pode colorir por cima, uma vez que o tonner admite passagem do pincel aguado sem manchar muito, defendendo-se com uma espécie de "gordura".
    O "tempo de validade", como judiciosamente lhe chama, acaba para todos, mais tarde ou mais cedo. O aproveitamento dele depende de cada um. Por isso, repito, não desista e, sobretudo, não desanime.

    Boa sorte
    Abraço
    Santos Costa

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